Mesmo tendo sido inspirado no livro de Jumpei Gomikawa, a trilogia Guerra e Humanidade, também conhecida como A Condição Humana, seguramente tem elementos da vida de seu diretor, o cineasta japonês Masaki Kobayashi. Uma obra de fôlego com quase dez horas de duração realizada entre 1959 e 1961, Guerra e Humanidade é uma história de forte essência pacifista. Característica marcante de Kobayashi, que começou sua carreira no início dos anos 1940 na função de assistente de direção e teve que interrompê-la por conta da Segunda Guerra Mundial. Esta postura fez com que ele recusasse ser promovido a um posto superior ao de soldado, sem contar o período em que esteve preso em um campo de concentração. Depois do conflito, Kobayashi abraçou novamente o cinema e estreou como diretor. Guerra e Humanidade é sua obra-prima e seu grande testamento artístico. Composta por Não Há Amor Maior, Estrada Para a Eternidade e Uma Prece de Soldado, esta trilogia acompanha a saga de Kaji (Tatsuya Nakadai). Ele é um civil defensor da paz que de repente se vê como supervisor de um campo de prisioneiros na Manchúria. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, junto com Zenzo Matsuyama, evidencia firmemente a posição de Kaji em relação ao caos que o rodeia. Guerra e Humanidade é mais que um filme antibélico. Além desta obviedade, há também um forte contexto político e uma bela história de amor entre Kaji e Michiko (Michiyo Aratama). Para alguém como Kobayashi que foi contemporâneo de Kurosawa, Ozu e Mizoguchi, não teria como ser diferente para manter-se no nível de colegas como estes. A Obras-Primas do Cinema caprichou nesta edição super especial que traz, além da versão integral restaurada, mais de uma hora de material extra. Uma preciosidade rara para os amantes do grande cinema.
TRILOGIA GUERRA E HUMANIDADE (Nigen No Jôken - Japão 1959/1961). Direção: Masaki Kobayashi. Elenco: Tatsuya Nakadai, Michiyo Aratama, Chikage Awashima, Ineko Arima, Keiji Sada e Sô Yamamura. Duração: 573 minutos. Distribuição: Obras-Primas do Cinema.