Se você viu Rocky IV e achou o pré show da luta entre o americano Apollo e o russo Drago um exagero, saiba que algo muito parecido aconteceu na luta real entre Muhammad Ali e George Foreman. Era 1974 e Ali havia perdido seu título de campeão por ter se recusado a lutar no Vietnã. Esta luta contra Foreman, que detinha o cinturão, serviria para colocar as coisas no seu devido lugar. Don King estava à frente de tudo. Já tão polêmico na época como seria depois ao cuidar da carreira de Mike Tyson. O documentário Quando Éramos Reis retrata a preparação e o confronto entre Ali e Foreman. Um embate que entrou para a história como "a luta do século". Antes do filme, porém, convém destacar o livro A Luta, escrito por Norman Mailer, que acompanhou tudo de perto e publicou suas impressões apaixonadas já no ano seguinte. O diretor Leon Gast esteve ao lado dos dois boxeadores o tempo todo. O evento foi realizado na capital do Zaire, Kinshasa, sob a proteção do ditador Mobutu e revela uma faceta que era sabida, porém, não era conhecida de Ali: sua grande inteligência. Aqui ele é o astro maior e transforma Foreman e um mero coadjuvante. A câmara de Gast não perde um registro sequer de sua imponente superioridade e extraordinário carisma. O melhor de tudo é que Quando Éramos Reis não se limita à luta em si. Ela está presente em detalhes emocionantes. Gast aproveita para tratar da condição do negro na América. E o faz com sutileza e contundência. Premiado com o Oscar de melhor documentário, trata-se de um filme não só obrigatório, mas fundamental para entendermos a complexa personalidade de Muhammad Ali. Um homem que lutou sempre, e em diferentes ringues, para marcar sua passagem pelo mundo. Este importante momento de sua vida também foi retratado no filme Ali, de 2001, dirigido por Michael Mann e com Will Smith no papel-título.
QUANDO ÉRAMOS REIS (When We Were Kings - EUA 1996). Direção: Leon Gast. Documentário. Distribuição: Top Tape.