Em um primeiro momento, a trama de O Discreto Charme da Burguesia pode até lembrar a de O Anjo Exterminador, ambos dirigidos pelo cineasta espanhol Luis Buñuel. Dez anos separam as duas obras e, a não ser pela questão do jantar, são filmes bem diferentes. Apesar de igualmente corrosivos em sua crítica à sociedade e à igreja, alvos preferidos do diretor. O roteiro, escrito por Buñuel junto com Jean-Claude Carrière, nos apresenta seis pessoas da classe burguesa que se reúnem para jantar. Mas, estranhos acontecimentos impedem que a refeição aconteça. Neste seu antepenúltimo filme, Buñuel se dá ao luxo de brincar conosco. Não que ele não tenha feito isso nos filmes anteriores. A diferença aqui é que a manipulação apresentada é muito mais sofisticada, se favorecendo da falta de linearidade, do sarcasmo, da ironia e da repetição. Tudo o que acontece em cena vai nos envolvendo e envolvendo até nos pregar uma rasteira no final surpreendentemente ácido. Em resumo: um autêntico Luis Buñuel. E, ironia das ironias, ganhou o que muitos consideram o mais burguês dos prêmios, o Oscar de melhor filme estrangeiro.
O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA (Le Charme Discret de la Bourgeoisie – França 1972). Direção: Luis Buñuel. Elenco: Fernando Rey, Paul Frankeur, Delphine Seyrig, Bulle Ogier, Stéphane Audran, Jean-Pierre Cassel, Julien Bertheau e Milena Vukotic. Duração: 102 minutos. Distribuição: Lume Filmes.