Não é por acaso que quando pediram a Orson Welles que dissesse o nome de três grandes cineastas ele respondeu: John Ford, John Ford, John Ford. Em 60 anos de carreira esse americano filho de irlandeses dirigiu quase 150 filmes. Em 1935, exatos 18 anos após sua estreia, ele já havia dirigido mais de 80 filmes, entre curtas e longas. Foi neste ano que Ford chamou a atenção de todos com sua primeira, de muitas outras obras-primas, e que lhe deu o primeiro dos quatro Oscar que ganhou de melhor diretor. Estou falando de O Delator. Com um roteiro de Dudley Nichols, baseado em uma história de Liam O'Flaherty, o filme nos apresenta Gypo Nolan (Victor McLaglen), homem de muita força física e pouca massa cinzenta. A ação acontece em Dublin, na Irlanda da década de 1920. Desligado do IRA (sigla em inglês para Exército Revolucionário Irlandês), Gypo se vê desempregado, sem dinheiro e quase sem esperança. Tanto ele como sua namorada, Katie (Margot Grahame). Ele vê então um anúncio oferecendo uma recompensa para quem fornecer uma pista sobre o paradeiro de Frankie McPhillip (Wallace Ford). Apesar de ser o seu melhor amigo, Gypo colabora com a polícia e Frankie é preso e morto. A partir daí, tem início uma espécie de descida ao inferno carregada de culpa e tentativa de redenção, temas recorrentes em trabalhos futuros do diretor. Aqui já é possível perceber a força autoral de Ford que realizou este filme com um orçamento enxutíssimo e em apenas 17 dias. O resultado não poderia ter sido melhor. O Delator ganhou o Oscar em quatro categorias: trilha sonora (de Max Steiner), roteiro, ator (para Victor McLaglen) e diretor.
O DELATOR (The Informer - EUA 1935). Direção: John Ford. Elenco: Victor McLaglen, Heather Angel, Preston Foster, Margot Grahame, Francis Ford, Una O'Connor, Wallace Ford, Joe Sawyer, J.M. Kerrigan e Donald Meek. Duração: 91 minutos. Distribuição: Silver Screen.