Se há um tema recorrente na filmografia da cineasta catalã Isabel Coixet esse tema é o desconforto causado pela dificuldade de comunicação. Isso pode ser constatado em Ninguém Deseja a Noite, que ela dirigiu em 2015. O roteiro de Miguel Barros se inspira em uma história real. Somos apresentado à Josephine (Juliette Binoche), que contrata Bram (Gabriel Byrne), um explorador, para ajudá-la a encontrar seu marido. Isso a leva a uma viagem ao Polo Norte, no ano de 1908, que é quando se passa a ação. Lugares inóspitos, muito gelo e a possibilidade de grandes descobertas fazem parte do pacote. Josephine termina ficando isolada com Allaka (Rinko Kikuchi), uma nativa. O melhor do filme está justamente na relação que se estabelece entre essas duas mulheres com visões de mundo bem distintas. Coixet filma sem pressa e realça a beleza gelada das locações, ao mesmo tempo em concentra seu foco na dinâmica entre Josephine e Allaka. O choque de culturas se evidencia por conta da origem e da educação completamente diferentes que ambas possuem. E tanto Binoche como Kikuchi defendem com garra e gosto suas personagens. Mesmo que de início pareça ser um filme de aventura bem masculino, surpreendentemente, Ninguém Deseja a Noite toma um caminho mais intimista e assume sutilmente uma postura feminista. Ponto para Coixet.
NINGUÉM DESEJA A NOITE (Nadie Quiere la Noche - Espanha 2015). Direção: Isabel Coixet. Elenco: Juliette Binoche, Rinko Kikuchi, Gabriel Byrne e Velizar Binev. Duração: 104 minutos. Distribuição: Focus Filmes.