Quarto longa do cineasta curitibano Marcos Jorge, a história de Mundo Cão, que originalmente se chamava Dois Sequestros, estava na cabeça dele desde quando ele lançou Estômago, em 2007. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, junto com Lusa Silvestre, tem a vingança como tema. Trata-se, portanto, de um filme de gênero. Só isso já justifica a conferida. Misto de policial com suspense, tudo começa quando o rottweiler de estimação do perigoso Nenê (Lázaro Ramos) é capturado pelo funcionário Santana, do Departamento de Combate às Zoonoses. O cão havia aparecido em uma escola e ameaçava a segurança dos alunos. Marcos Jorge pontua já nas primeiras cenas os diferentes estilos de vida de Nenê e Santana. Um infeliz mal-entendido provoca a ira de um contra o outro e, a partir daí, as coisas só pioram e tomam rumos inesperados. Mundo Cão é, assim como Estômago, um trabalho mais pessoal do diretor. Diferente de Corpos Celestes, de 2009, onde ele dividiu a direção com Fernando Severo, e O Duelo, de 2015, que foi um filme de encomenda. À frente do elenco, Babu Santana e Lázaro Ramos defendem seus papéis com garra e carisma. Porém, as boas surpresas ficam por conta das duas únicas atrizes em cena: Adriana Esteves, que vive Dilza, mulher de Santana e mãe de Isaura, papel da estreante Thainá Duarte. Mundo Cão lida com um tema recorrente na filmografia de seu diretor: a disputa de poder. Novamente tendo Toca Seabra como diretor de fotografia, o mesmo de Estômago, é visível aqui o cuidado no uso das cores e na composição de cada sequencia. Marcos Jorge é um artista que sempre tem algo a dizer. Algo raro e louvável. Principalmente na cinematografia brasileira recente.
MUNDO CÃO (Brasil 2016). Direção: Marcos Jorge. Elenco: Babu Santana, Lázaro Ramos, Adriana Esteves, Milhem Cortaz, Thainá Duarte, Paulinho Serra e Vini Carvalho. Duração: 101 minutos. Distribuição: Paris Filmes.