Em uma cinematografia como a espanhola, que conta com nomes do calibre de Luis Buñuel, Juan Antonio Bardem, Luis García Berlanga, Carlos Saura e Victor Erice, não é fácil se destacar. Mais difícil ainda é deixar uma marca. Algo que Pedro Almodóvar faz desde que estreou na direção de longas, em 1978, após ter dirigido alguns curtas. Dono de um estilo bem particular, sua filmografia é tudo, menos previsível e comportada. Talvez essa tenha sido a razão de muita gente ter estranhado Julieta, que ele escreveu, a partir de um conto de Alice Munro, e dirigiu em 2016. Esta é provavelmente a obra mais convencional já realizada por Almodóvar. E na minha opinião não se trata de demérito algum. É difícil ser transgressor sempre. Julieta acompanha a personagem título, vivida pelas atrizes Adriana Ugarte (quando jovem) e Emma Suárez (no presente). Certo dia, um encontro fortuito faz com que ela desista de uma mudança que estava em curso e relembre seu passado. Em especial, a relação com sua filha. Muitas das características do cinema de Almodóvar continuam intactas. No entanto, o ritmo é outro agora. Ele não parece mais urgente. Há uma certa calma no ar. E isso não é ruim. Vejo como um sinal de maturidade emocional. Almodóvar não precisa mais provar nada para ninguém. Sua trajetória como artista lhe permite tomar o rumo que quiser para contar suas histórias. Em Julieta ele explora uma narrativa mais simples e linear, mesmo indo e voltando no tempo. Nas mãos de um outro diretor poderia até parecer comum. Mas nada é comum no cinema de Almodóvar. Mesmo quando parece ser.
JULIETA (Julieta - Espanha 2016). Direção: Pedro Almodóvar. Elenco: Adriana Ugarte, Emma Suárez, Rossy de Palma, Michelle Suárez, Daniel Grao, Inma Cuesta e Dario Grandinetti. Duração: 99 minutos. Distribuição: Universal.