Terceiro longa-metragem da roteirista e diretora italiana Alice Rohrwacher, Feliz Como Lázaro é aquele tipo de filme que permite múltiplas interpretações. Desde a óbvia referência bíblica já presente no próprio título a uma série de outras que podem variar de acordo com o repertório do espectador. No entanto, há pontos que merecem destaque e que giram em torno de Lázaro (vivido pelo estreante e excepcional ator Adriano Tardiolo), um jovem que perdeu os pais e foi criado pela avó. Ele carece de inteligência, mas é dotado de uma bondade extrema. Tão extrema que o torna presa fácil para a exploração daqueles que vivem e trabalham com ele em uma região pertencente à poderosa marquesa De Luna (Nicoleta Braschi). Ela explora os moradores de suas terras que nunca conseguem pagar suas contas e estes, por sua vez, não reagem e aceitam aquela situação completamente sem perspectiva de melhora, ao mesmo tempo em que tiram proveito da bondade e inocência de Lázaro. Um evento inesperado muda drasticamente aquela realidade e, tempos depois, as peças daquele grande tabuleiro de xadrez se reencontram em outro contexto. Porém, com muitas de suas características alteradas. Com exceção, é claro, do doce e puro Lázaro. A cineasta Alice Rohrwacher já havia chamado a atenção com seu longa anterior, As Maravilhas, de 2014, ganhador no Festival de Cannes do Grande Prêmio do Júri. Desta vez, com Feliz Como Lázaro, ela ganhou como melhor roteiro. Sua narrativa fabulesca, filmada em super 16mm (o que confere uma granulação especial que favorece a história), é incômoda na medida certa ao ressaltar a dura realidade das gritantes diferenças sociais que ainda persistem na Itália e, em grande medida, em muitas partes do mundo.
FELIZ COMO LÁZARO (Lazzaro Felice – Itália 2018). Direção: Alice Rohrwacher. Elenco: Adriano Tardiolo, Alba Rohrwacher, Luca Chikovani, Tommaso Ragno, Sergi López, Nicoletta Braschi, Natalino Balasso e Carlo Massimino. Duração: 125 minutos. Distribuição: Netflix.