Em 45 anos de carreira, o cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer dirigiu apenas 14 longas. Média de um filme a cada três anos. Muito baixa naquele período. O extremo perfeccionismo do diretor não encontrava respaldo junto aos produtores. Depois de uma temporada na França, onde realizou duas de suas muitas obras-primas, O Martírio de Joana D'Arc e O Vampiro, feitos em 1928 e 1932, respectivamente, Dreyer ficou 11 anos sem filmar. O jejum durou até 1943, já de volta à Dinamarca, onde escreveu e dirigiu Dias de Ira. O roteiro é uma adaptação de uma peça do norueguês Hans Wiers-Jenssen. A ação se passa no século 17, época onde vigorava uma onde de caça às bruxas. Neste contexto explosivo, a jovem Anne (Lisbeth Movin), segundo esposa de um pastor mais velho, Absalon (Albert Hoeberg), se apaixona por Martin (Preben Lerdorff Rye), seu enteado. Na verdade, Dreyer elabora aqui uma alegoria da ocupação nazista em seu país, que havia estabelecido um pacto com os alemães. O lançamento de Dias de Ira causou um impacto tão profundo que estremeceu as relações entre os dois países. Como consequência, terminou por provocar o exílio do diretor na vizinha Suécia, de onde nunca mais voltou. Dreyer, fiel ao seu estilo bem pessoal, não fez, como nunca fez, concessões em seus trabalhos. Pagou um preço alto por isso. No entanto, sua obra ficou e é uma grande referência até hoje.
DIAS DE IRA (Vredens Dag - Dinamarca 1943). Direção: Carl Theodor Dreyer. Elenco: Thorkild Roose, Lisbeth Movin, Albert Hoeberg, Emilie Nielsen e Sigrid Neiiendam. Duração: 98 minutos. Distribuição: Versátil.