Apesar de muita gente confundir, existe uma grande diferença entre cobertura jornalística e documentário. O primeiro precisa, obrigatoriamente, apresentar os dois lados da pauta proposta. O segundo é um recorte feito por seu realizador e deve, a partir de imagens de arquivo, depoimentos e material novo captado exibir a visão do diretor em relação ao tema apresentado. Democracia em Vertigem, da brasileira Petra Costa, obedece rigorosamente essa segunda premissa. Ao acompanhar os protestos de junho de 2013, seguidos pela eleição presidencial de 2014 e os eventos posteriores que culminaram no processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e, dois anos depois, na eleição de Jair Bolsonaro. O documentário filtra tudo pelo olhar de própria Petra, que faz a narração, e de sua mãe, Li An, com quem conversa algumas vezes. Este é o terceiro longa dela e todos possuem um traço em comum: são bastante pessoais. Diferente de uma cobertura jornalística, que precisa mostrar todos os lados para permitir que nós, os espectadores, façamos nosso julgamento, em um documentário o diretor tem a liberdade e o direito de expor seu ponto de vista. Isso posto, caberá ao público concordar ou não com o que foi mostrado. Mas, sempre, respeitando as escolhas narrativas e estéticas de seu realizador. Em tempo: Democracia em Vertigem foi indicado ao Oscar 2020 de melhor documentário em longa-metragem.
DEMOCRACIA EM VERTIGEM (Brasil 2019). Direção: Petra Costa. Documentário. Duração: 122 minutos. Distribuição: Netflix.