O grande mestre Federico Fellini encerrou a década de 1960 com Satyricon, uma visão anárquica e transgressora como só ele seria capaz. No início da década seguinte o cineasta volta às suas memórias de infância no emocionante Amarcord e pouco depois retorna a um universo similar ao de Satyricon com Casanova de Fellini. O diretor escreveu o roteiro, junto com Bernardino Zapponi, a partir da autobiografia História da Minha Vida, de Giacomo Casanova, vivido aqui pelo ator Donald Sutherland. Não é por acaso que o título do filme traz também o nome de seu criador. O olhar de Fellini para as memórias do mais famoso Don Juan italiano é, no mínimo, bem singular. No entanto, apesar de possuir todas as características circenses que sempre marcaram as obras do diretor, Casanova não dialoga com os filmes mais pessoais do cineasta. Ele possui uma frieza, um distanciamento gélido que, mesmo belo, não nos envolve, embora nos encante. É um típico Fellini e, ao mesmo tempo, se esforça para não ser tão típico assim. Talvez a melhor palavra para resumir essa sensação seja "estranhamento". Mas isso, em se tratando de um artista genial como ele é apenas um exercício de estilo. E dos bons, diga-se de passagem, e o Oscar de Melhor Figurino que o filme ganhou em 1977 só reforça isso.
CASANOVA DE FELLINI (Il Casanova di Fellini - Itália 1976). Direção: Federico Fellini. Elenco: Donald Sutherland, Tina Aumont, Cecely Browne, Carmen Scarpitta, Clara Algranti e Daniela Gatti. Duração: 154 minutos. Distribuição: Versátil/Saraiva.