Diz a lenda que o produtor Rodrigo Teixeira leu o livro A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, escrito pela pernambucana Martha Batalha e o presenteou ao diretor cearense Karim Aïnouz. Este, por sua vez, viu na obra muitos paralelos com a vida de sua mãe. A partir daí teve início o projeto de transpor aquela história para o cinema. Com roteiro do curitibano Murilo Hauser, junto com Inés Bortagaray e o próprio Aïnouz, nasceu A Vida Invisível. A ação começa nos anos 1940, no Rio de Janeiro, e se estende por cerca de duas décadas acompanhando as irmãs Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler). Ambas muito unidas, mas bem diferentes no temperamento e na maneira de agir. Guida, a mais velha, foge com o namorado e é abandonada depois por ele, grávida. O pai não a aceita de volta e sua vida toma um outro rumo longe da irmã mais nova, que sonha em se tornar uma pianista profissional. Porém, ela acaba se casando com Antenor (Gregório Duvivier). A Vida Invisível aborda de maneira dura, mas, poética, a rotina dessas duas mulheres e a hipocrisia familiar e social que podou seus sonhos e limitou suas escolhas. O olhar de Aïnouz nos conduz por uma narrativa de cores fortes e quentes com um cuidado extremado na composição dos cenários, dos objetos de cena, dos figurinos e da reconstituição de época. O próprio diretor assumiu, já no material de divulgação do filme se tratar de um melodrama tropical. E não poderia haver melhor definição. Quem tiver lido o livro, certamente encontrará muitas diferenças em relação ao material original. No entanto, é bom frisar que não se trata de uma adaptação literal. O que é muito bom. Todavia, a essência emotiva do texto literário se faz presente aqui.

A VIDA INVISÍVEL (Brasil 2019). Direção: Karim Aïnouz. Elenco: Carol Duarte, Julia Stockler, Gregório Duvivier, António Fonseca, Hugo Cruz, Nikolas Antunes, Flávia Gusmão, Luana Xavier e Fernanda Montenegro. Duração: 140 minutos. Distribuição: Vitrine Filmes.