Fazer de espaços limitados microcosmos representativos do comportamento da sociedade é um recurso bastante utilizado pela literatura, pelo teatro e, claro, pelo cinema. A Nau dos Insensatos, que Stanley Kramer dirigiu em 1965, pega carona nesse filão. O roteiro de Abby Mann, adaptado do romance de Katherine Anne Porter, nos conduz por uma viagem de navio que dura pouco mais de um mês. A ação se passa no início dos anos 1930 e começa em Vera Cruz, no México, com destino à Bremen, na Alemanha. Dentro da embarcação, os passageiros representam e antecipam ideias, posturas e ações que seriam adotadas pelo nazismo. É curioso constatar que Kramer vinha de Julgamento em Nuremberg, elogiado drama de guerra feito quatro anos antes, e de Deu a Louca no Mundo, comédia maluca de muito sucesso popular, de 1963. Em A Nau dos Insensatos, de certa forma, ele dialoga com o filme de 1961. É como se aqui tivéssemos o prólogo e no outro, o epílogo. Diretor habilidoso, Kramer reuniu um elenco dos mais ecléticos e produziu essa sutil e ao mesmo tempo contundente parábola sobre a natureza humana, vencedora do Oscar nas categorias de direção de arte e fotografia, ambas em preto e branco.
O NAU DOS INSENSATOS (Ship of Fools - EUA 1965). Direção: Stanley Kramer. Elenco: Vivien Leigh, Simone Signoret, José Ferrer, Lee Marvin, Oskar Werner, Elizabeth Ashley, George Segal e Lilia Skala. Duração: 149 minutos. Distribuição: Paragon.