Bonde Briguet

Por que troquei de nome no Facebook

01 jun 2016 às 14:19


O Facebook me mandou trocar de nome. O robô do Zucka deve ter cismado que "Paulo Briguet" é um apelido falso, de algum briguento que não existe em carne e osso. Como sabemos, ele está enganado, mas eu não tenho paciência para ficar discutindo com robô; resolvi obedecer. Doravante passo a me chamar "Paulo Antônio Briguet" na rede social. O que, aliás, me deixou contente, porque é o meu nome por extenso, pelo qual sempre fui chamado entre os familiares. Quem me conhece desde o tempo de guaraná com rolha costuma dizer "Paulo Antônio".

Fico feliz também porque Antônio é o nome do meu bisavô materno, o menino português que foi deixado sozinho no Brasil no final do século 19, com apenas sete anos de idade. Diz a lenda que Antônio se chamava Manuel, mas resolveu trocar de nome porque já havia muitos manuéis portugueses no Brasil. Antônio também é o nome do meu avô paterno, que nasceu em um pequeno povoado da Múrcia, pedaço de deserto no Sul da Espanha, às margens do Mar Menor, lago de água salgada em que um dia pretendo mergulhar os pés. Antônio tinha os olhos claros e a pele escura, assim como meu pai. Mais um motivo para gostar de ser Paulo Antônio (agora sem aspas): é como se eu estivesse ao lado de meu pai e meu avô. Quanta dor, quanta alegria, quanto tempo e quanta história cabem em dois pequenos nomes! Tudo leva a crer que o nosso verdadeiro nome não é esse que está aí na carteira de identidade, mas outro, escrito no Livro da Vida, e que só vamos descobrir quando Deus no-lo revelar de Seus próprios lábios. Mas isso é depois, lá no Céu. Por enquanto, vamos utilizando os nossos nomezinhos provisórios. Se o robô do Zucka deixar. E por falar em Céu, é precisamente este o significado do nome de minha amiga Célia, que agora está de volta a Londrina, para nos encantar ainda mais com a qualidade de seus textos. O primeiro artigo que escrevi na FOLHA, no longínquo ano de 1992, foi a seu pedido. Era sobre Tim Maia. Um dia, na Praça Sete de Setembro, Célia contou-me o sonho que havia acabado de ter: um anjo lhe disse que ela seria mãe de dois meninos. O anjo estava certo, e hoje os gêmeos da Célia são moços. Lembro-me também quando outra amiga jornalista, a Adriana, ficou grávida da Júlia. Não sei se Adriana lembra, mas meu primeiro emprego de repórter no jornal foi justamente para substituí-la, quando ela saiu de licença, em 1994. Adriana significa "aquela que é morena", como o meu avô Antônio, e tem os olhos claros, iguais aos dele. Quando Antônio teve o primeiro filho homem, quis batizá-lo de Ângelo Bernardo. Mas o homem do cartório deu mancada e tascou "Ângulo" em vez de Ângelo. De qualquer forma, meu tio passou a ser chamado por todos pelo apelido carinhoso: Dinho. Neste domingo, ao receber a comunhão, eu vi meu pai e meu tio, os dois filhos de Antônio, em um abraço caloroso de irmãos no Céu. Agora eles têm outros nomes. Santificado seja o vosso nome.


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