A Operação Lava Jato nasceu em Londrina – e o responsável pela certidão de nascimento é Gerson Machado, delegado da PF aposentado que atuou na cidade. Dias atrás Gerson foi procurado pela equipe do cineasta José Padilha (diretor do filme "Tropa de Elite"), que produzirá um seriado sobre a Lava Jato. É provável que o capítulo inicial da série tenha Londrina como cenário. Padilha já sabe: foi aqui que tudo começou.
Em 2005, Gerson Machado estava em Brasília, participando de um seminário na sede da PF, quando recebeu uma missão urgente do diretor geral para comparecer ao Congresso Nacional. Foi conduzido até à CPI do Mensalão para dar seu parecer sobre uma acareação entre os doleiros Alberto Youssef e Toninho da Barcelona. O londrinense Youssef já havia sido investigado por Gerson em outros carnavais. Naquele momento, o delegado intuiu que estava diante de um escândalo capaz de abalar a República e mudar a historia do Brasil. Tinha razão, como sabemos. Trabalhando em Londrina, Gerson puxou o fio de uma rede de corrupção que se espalhava por toda a estrutura do Estado brasileiro. Empenhou-se em investigar as relações entre Youssef e o deputado Jose Janene (morto em 2010) e os desvios bilionários de recursos públicos no governo do PT. Encontrou diversas provas e evidências, que foram depois repassadas à equipe dos delegados da Superintendência PF em Curitiba, com o conhecimento do juiz Sergio Moro e do Ministério Público. Em outras palavras: a República de Curitiba existe graças a Londrina. Gerson Machado conhece como poucos o fio condutor entre o Mensalão, o Petrolão e a Lava Jato, atual ruína do setor público, com os efeitos sociais e econômicos que o Brasil vive hoje. Em sua vida familiar e profissional, sofreu pelas consequências de ter sido o primeiro a investigar a quadrilha que tomou o país de assalto. Foram inúmeras as ameaças, diretas e veladas, ao delegado e seus familiares. O episodio mais dramático se deu 2005, quando um bandido chegou a empunhar uma arma para matar Gerson, nas proximidades do Lago Igapó. O sujeito só desistiu ao constatar que não era o delegado no veículo que ele, regularmente, utilizava, mas a sua mulher, Valéria Araujo Machado, que estava dentro do carro; por acaso, acabado de trocar os veículos em um encontro com amigos em um restaurante de Londrina. "Por pouco não aconteceu uma tragédia", diz Valéria. Em maio, Gerson, Valéria e os dois filhos foram chamados ao Rio de Janeiro para conversar com a equipe do seriado "Lava Jato". Quem o indicou foram os delegados Marcio Anselmo e Erika Marena, da PF em Curitiba, que receberam dele as investigações iniciais. Quem os recebeu, de braços abertos, foi o policial Rodrigo Pimentel. Sim, ele mesmo: O capitão Nascimento, da vida real.
Nascimento, digo, Pimentel ficou impressionadíssimo com a narrativa do delegado. "Ei, venham conhecer o pai da Lava Jato!", disse Pimentel aos amigos que encontrava. Ficou amigo da família. Depois de tanto sacrifício e empenho, o pai da Lava Jato vai poder ver sua história contada para o Brasil. É uma história de cinema.