Quem está reclamando do fim do MinC deveria mais é carpir uma data.
1. Pedro, 6 anos, pediu à avó um bloco de papel e lápis de cor. "Quero escrever um livro", disse. Apontou a própria testa para dizer que já estava com todo o conteúdo da obra na cabeça. Será um livro de versos e desenhos dedicados à mamãe. Isso é cultura – e sem burocracia.
2. Sempre achei que o grande problema na relação entre educação e cultura é o "e". Portanto, aplaudo a decisão de reunir as áreas numa só pasta. Se o retorno à sigla MEC significar economia de recursos e corte de cargos comissionados, ótimo! Não considero a Lei Rouanet uma lei ruim – renúncia fiscal é melhor do que pagamento de imposto sem destinação específica –, mas existem distorções sérias e elas devem ser corrigidas. 3. Arte, beleza e sabedoria não precisam de ministério. Governo não escreve livro, não pinta quadro, não compõe sinfonia. Muitas vezes o governo representa – mas faz um teatro de péssima qualidade. Há também os momentos em que os políticos sapateiam (vide as viúvas do PT). Porém, nada disso é cultura; no máximo, é baixo entretenimento. 4. Eu só defenderia a continuidade do MinC caso o ministro escolhido por Temer fosse o Olavo de Carvalho. Se separássemos um só livro do filósofo radicado na Virgínia – como "O Imbecil Coletivo" ou "O Jardim das Aflições" –, Olavo já teria feito mais pela cultura brasileira do que todos os ministros da pasta, de 1985 para cá. Olavo está na origem de todo o movimento que levará ao fim do PT. Além disso, ele é o grande responsável pela quebra da hegemonia cultural da esquerda. O que as pessoas no Brasil inteiro falam hoje, Olavo já estava falando há 20 anos – e praticamente sozinho. É como se diz: #Olavotemrazão. 5. Dr. José Hosken de Novaes foi candidato à Prefeitura de Londrina nos anos 60. Homem urbano e educadíssimo, dono de uma grande biblioteca e leitor da Divina Comédia, Hosken se viu obrigado a percorrer todos os rincões do município. Certo dia, ele e o prefeito Milton Menezes – seu compadre – faziam campanha na zona rural quando a fome bateu, e um cacho de bananas era o único alimento disponível. Hosken comeu uma banana e ficou segurando a casca. Depois de alguns minutos de hesitação, Hosken perguntou ao amigo: "Milton, não tem um cesto de lixo para eu jogar esta casca, não?" O homem era tão educado que não concebia jogar uma casca de banana no chão de terra. Isso é cultura. 6. Por falar em prefeito, Alexandre Kireeff se emocionou na palestra de Arnaldo Jabor, na semana passada. Quando Alexandre foi anunciado para dar boas-vindas ao palestrante, alguém da plateia gritou: "Fica, Kireeff!" O Teatro Marista lotado respondeu em uníssono: "Fica! Fica! Fica!"
7. Aos que estão tristes com o fim do MinC, Michel Temer poderia criar uma nova pasta: Ministério da Falta de Enxada.