Não teve suficiente destaque na grande mídia a notícia de que mais de 70 cristãos foram mortos e 240 ficaram feridos em um atentado suicida no Paquistão. O ataque do homem-bomba, militante do Talibã e do Estado Islâmico, aconteceu em pleno Domingo de Páscoa, a maior e mais sagrada festa do cristianismo. Entre as vítimas, estão 29 crianças que brincavam em um parque.
Essas pessoas essas crianças morreram por um único motivo: eram cristãs. Morreram porque ousavam acreditar na Ressurreição de Jesus Cristo, mesmo vivendo em um país de esmagadora maioria muçulmana. Os ataques contra a minoria de cristãos paquistaneses menos de 2% da população do país se tornaram frequentes nos últimos anos. H0je o cristianismo é a religião mais perseguida no planeta. Em meio às informações sobre a tragédia no Paquistão, a Igreja Católica teme pela vida do padre indiano Tom Uzhunnalil, sequestrado por militantes do Estado Islâmico no início do mês. Os terroristas ameaçavam crucificá-lo em plena Sexta-Feira Santa. Diante de notícias tão cruentas, devemos perguntar se apenas mensagens de paz, apelos à tolerância e protestos diplomáticos são suficientes para conter esse mar de sangue do radicalismo islâmico. É óbvio que não. É óbvio que esses crimes assim como os recentes atentados na Bélgica precisam ter uma resposta que vai além das palavras piedosas e dos apelos ao bom senso. Bandeiras brancas e pombas da paz nada significam para os agentes do mal absoluto. Nessa hora, eu me lembro das belíssimas palavras do poeta russo Joseph Brodsky ele próprio vítima do mal absoluto chamado comunismo numa aula inaugural a estudantes norte-americanos. De origem judaica, Brodsky faz uma leitura inteligentíssima e teologicamente irrepreensível da passagem do Sermão da Montanha em que Jesus afirma: "Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra". Brodsky alerta para os perigos de citar essa passagem bíblica de maneira incompleta. Atento leitor, o poeta russo observa que o Filho do Homem costumava falar em tríades e acrescenta à mesma afirmação, prosseguindo sem ponto nem vírgula: "Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil". Lidos na íntegra, os versículos "pouco ou nada têm a ver com resistência não violenta ou passiva". Segundo Brodsky, as palavras de Jesus sugerem que o mais necessário é revelar a verdadeira face do mal, em todos os seus excessos e absurdos. E continua o poeta: "Quero lembrar aqui que não estamos tratando aqui de uma situação que envolva uma luta justa, em condições de igualdade. Estamos falando de situações nas quais nos encontramos desde o início numa posição inevitavelmente inferior. ( ) Ao avançarem o rosto com a face voltada para o inimigo, vocês devem saber que isto é apenas o início de sua provação". Para Brodsky, formular a nossa ética e as nossas ações com base em um versículo citado incorretamente nada mais é do que buscar o fracasso e ceder terreno ao Mal para que ele se estabeleça e nos escravize.
Mais do que nunca, os cristãos do mundo inteiro têm o dever de expor a natureza do mal representado pelo terrorismo, seja ele islâmico, seja ele revolucionário ou islâmico-revolucionário. Não é porque as nossas faces estão, ao menos por enquanto, protegidas do terror que temos o direito de silenciar diante do sofrimento de nossos irmãos espalhados pelo mundo. Se não houver uma reação mundial a essa escalada mortal, a maré de sangue chegará até mim, até você, até aqueles que você ama.