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Blogs, bastidores e jornalismo II

31 dez 1969 às 21:33

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Estou na Folha há menos de seis meses. Ainda estou conhecendo o pessoal, o jeito de fazer as coisas aqui. Há deficiências. Mas as qualidades superam-nas de longe.

Antes de mais nada, a qualidade chamada GENTE e o valor que ela tem. O fator humano que, aqui, vale mais do que um computador novo. O clima, as conversas da redação, a troca constante de ideias. O companheirismo. O jeito como as reportagens do Folha Curitiba mostram a cidade. O ponto de vista inovador das pautas. Tudo permeado por GENTE.

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Trabalhei em outras duas redações de jornais. Eram diferentes, cada uma a seu modo. Amei cada uma delas e as pessoas com quem trabalhei. Todas as redações, porém, têm muito em comum.

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Redações são meio iguais no seu jeito "antigo" de ser. De estarem todos ali produzindo alguma coisa que ainda vai rodar por uma máquina imensa, antiga e pesadona, se transformar em letras e papel, ser dobrado, empacotado, ir pra dentro de caminhões, rodar estradas e cidades, ir para bancas, portarias de prédios e jardins de casas, até acabar na mão do leitor - no dia seguinte.

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Nessa lida, o jornal reúne todo-santo-dia tipos incríveis. Do repórter ao editor, do foca atrapalhado ao repórter arrogante, do chefe de redação ao boy, dos colunistas ao cara que precisa redigir a "lista dos mortos", do pessoal das máquinas de impressão, sujos de graxa, ao pessoal da expedição, sujos da tinta do jornal, dos nossos amados motoristas aos praticamente-extintos revisores, dos paginadores as telefonistas e secretárias.


Redações reúnem um bando de gente abnegada, meio masoquista, que ganha pouco, mas que adora o que faz. Gente que, numa sexta-feira a noite, enquanto meio mundo tá no boteco, no cinema, ou em casa descansando, está lá no "pescoção" - trabalhando num frenesi de fechamento, adiantando a edição de domingo e comendo sanduíche de pão com bife num pão murcho, por exemplo.

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A redação da Folha Curitiba é um pouco assim também, mas é diferente, pra começar, por ser uma sucursal. Tem bastante gente - mas não somos a redação de Londrina, nossa nave-mãe.


Na Folha Curitiba conversa-se. E muito. Tenho visto redações muito silenciosas ultimamente. Todos agora andam plugados na web, no telefone, em seus I Pods. Cada um ensimesmado em seu casulo, em sua "baia" com computador, fones de ouvido, telefone, cadeira e tralhas.

Aqui não. O povo troca ideias o tempo todo. Parece uma redação de 15, 19 anos atrás, de quando comecei. Muita coisa se resolve no grito - "Ei, fulano, olha isso aqui", em vez de pegar o telefone e discar o ramal do interlocutor.


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