Beirada nipônica

Vivendo nos limites - a morte como saída

12 jul 2015 às 08:21

Nas últimas semanas aconteceram três episódios marcantes e negativos.
O suicídio continua em alta por aqui.
O primeiro foi um senhor na casa dos setenta anos, vivendo sozinho e com algumas dificuldades financeiras. O pouco da aposentadoria que recebia, utilizava para suas necessidades diárias. Para completar, recolhia latas de alumínio para reciclar e ganhar, quem sabe, para alguma "extravagância" a mais.
Diziam que era bom vizinho, mas ultimamente andava irritado. Alguns viram quando ele saiu com um galão de plástico vazio e voltou cheio de querosene. Estranharam porque o frio se foi e não haveria necessidade de utilizar o aquecedor (aqui tem muitos aquecedores a querosene).
Ninguém percebeu quando ele saiu de casa para nunca mais voltar.
Com o último trocado que possuía comprou uma passagem de Shinkansen para Tóquio. Sentou no primeiro vagão porque é mais barato. Num determinado momento levantou-se, e gritando ameaçou incendiar o vagão. Disse também que iria se suicidar jogando o querosene em sem próprio corpo. Depois de algumas palavras de protesto contra as condições que vivia, afastou-se dos demais passageiros para não machucá-los e ateou fogo no corpo. Alguns viram que ele fazia isso chorando, e já em chamas ficou olhando firmemente para os demais.
A fumaça do vagão incendiado deixou mais dois mortos, um por intoxicação e outro pelo estresse que passou.
Ninguém viu, ninguém percebeu nada e ninguém conversava com ele sobre as coisas da vida.

A segunda morte foi de um menino de 13 anos. Estudando do terceiro ano ginasial, ele sofria maus tratos de alguns companheiros desde o primeiro ano.
Em seu diário escreveu várias passagens desses maus tratos, mostrou para os professores que nunca tomaram providencia nenhuma. Na última anotação, o menino escreveu que já havia escolhido um lugar para morrer. Por falta de preparo em lidar com bullying, a professora respondeu: "vamos treinar melhor amanhã", referindo-se aos rituais do acampamento que iria acontecer nos próximos dias, ignorando completamente a situação de desespero que o menino passava.
Jogou-se na frente de um trem em movimento na frente de todos.
A pergunta que ficou foi: "onde estavam os pais dessa criança enquanto tudo isso acontecia?"
Eles são separados, com a mãe cuidando de mais dois filhos, enquanto ele foi morar com o pai. Esse, disse nunca ter percebido nada de diferente no comportamento do garoto, e que nunca havia lido o diário do filho. Negligência total.


O terceiro caso foi de um oficial da marinha da província de Oita, no sul do Japão. Como marinheiro voltava para casa apenas nos finais de semana. Tinha oito filhos que ficavam aos cuidados da esposa.
Ele ateou fogo na casa espalhando gasolina nos quartos, e quando acendeu o fósforo para destruir o lar, matou junto quatro dos seus filhos.
Num primeiro momento ninguém entendeu a atitude do marinheiro, mas na prisão tudo veio a esclarecer.
Ele disse que colocou fogo na casa como protesto por não receber atenção suficiente da esposa. Disse que ficava longe por duas semanas e quando retornava, era completamente ignorado por ela. Não tinha a pretensão de matar as crianças, mas aconteceu.
Enfim, essa é parte da sociedade japonesa que precisa ser trabalhada. Ninguém está nem aí com ninguém, cada um que cuide da sua vida e trabalhe os seus problemas "internamente".
Esses três passaram a fazer parte das estatísticas dos 30 mil suicídios que acontecem há uma década.
O país mais tecnológico do mundo precisa encontrar uma solução para dividir um abraço.

Para o futuro


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