Beirada nipônica

Nobel de química para dois japoneses

10 out 2010 às 00:25

Meus dois últimos post falaram um pouco sobre educação. Não sou nenhum especialista no assunto, mas o que me fez escrever sobre o tema foi a grande diferença educacional que existe entre o Brasil e o Japão. Numa troca de informações sobre metodologia de treinamento esportivo recebi uma resposta "enviasada" de um pesquisador recém formado. Depois lí que Tiririca pode ser analfabeto. Me assustei com tudo isso e coloquei para fora um pouco dessa realidade. Recebi inúmeras mensagens onde a maioria dizia que deixei de ser brasileiro, que valorizo mais as coisas japonesas, que estou esquencendo as minha raízes e essas coisas todas que pensam alguns dos meus conterrâneos que comparado à mim, vivem outras realidades.
Esta semana, anunciado para o mundo inteiro, dois japoneses e um americano ganharam o Prêmio Nobel de quimica. Akira Suzuki (80 anos) da Universidade de Hokkaido, Ei-ichi Negishi (77 anos) que trabalha na Purdue University (EUA) e Richard Heck da Universidade de Delaware, em Nova York.
Num passado recente o Japão também levou o Nobel de literatura e física. Aí fico me perguntando, e o Brasil?
Sem querer ofender ninguém, continuo achando que no Japão os estudos são levados mais a sério. Digo isso não por causa de Suzuki e Negishi que devem ser estudiosos ao extremo, inteligentes. Digo isso porque vivo aqui e sei como é o ambiente escolar. Estudar e ingressar em boas escolas é motivo de orgulho para o aluno e principalmente para a família, as pessoas saem para comemorar, fazem festinhas e alguns até recebem gratificações financeiras. Sem dizer que estudar em boas escolas e ser bom aluno aumentam suas chances de não ficar desempregado e hoje isso é muito importante.
Não deixei de ser brasileiro porque digo que os japoneses dão mais valor aos estudos e cuidam melhor de suas escolas. Aqui não existem faxineiros e são os próprios alunos que limpam os banheiros, as classes e os corredores. Aqui eles estudam em período integral e quando alguém precisa faltar, seus pais ligam avisando o motivo. Se alguém não comparece por dois dias consecutivos a escola entra em contato. Se alguém não vai bem nos estudos, um professor bate na porta da sua casa. Todas as escolas possuem ginásios cobertos, campos de futebol, beisebol e pisicinas, além de todo material necessário para a prática esportiva. Entre as matérias os alunos estudam arte culinária, costura, pintura, música instrumental e "noogyo" que significa noções práticas e teóricas sobre lavouras e plantações. Isso tudo desde o primeiro ano do primário até o término do colegial. É diferente ou não é?
Mas não é porque eles estudam tudo isso que eu acho que a educação é mais valorizada aqui. É porque nunca ví um analfabeto, nunca ví ninguém destruir o que é público, vejo respeito no trânsito, aos idosos, ordem nas filas, progresso contínuo na infra-estrutura e os dezoitos japoneses que já ganharam o Prêmio Nobel incluindo Suzuki e Negishi. Outra coisa que acho diferente é que os dois pesquisadores continuam na ativa apesar de terem 80 e 77 anos.

Akira Suzuki


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