O ano fiscal e letivo aqui no Japão termina em março, e por isso, quase tudo de mais importante acontece agora. Acho que já escrevi isso em algum lugar lá atrás, mas acho que vale a pena repetir.
Tenho demorado mais que o normal para escrever, mas tenho uma grande desculpa para isso. Meu trabalho está mudando.
Em março terminam as aulas e acontecem as formaturas. Tem também as inscrições para as faculdades e as despedidas dos alunos que mudam de patamar. Uns saem do primário e ingressam no ginásio, outros saem do ginásio e ingressam no colégio. De todo jeito são mudanças, e grandes mudanças se pensarmos que são apenas garotos.
As empresas buscam seus novos funcionários nesta época para colocá-los para trabalharem a partir de abril. Aí, acontece de vermos um monte de jovens buscando uma colocação profissional, dentro dos seus ternos escuros e discretos, que não se ajustam à postura e aos cortes de cabelo mais ousados. É notório que muitos vestem a gravata e paletó pela primeira vez.
As mudanças no meu trabalho serão grandes, pois serei "head coach" novamente das categorias juvenil e principal, em tempo integral. Terei mais jogos para ir, mais treinos para dar, mais planejamentos, mais reuniões e consequentemente, menos tempo para pensar em outras coisas.
Por conta dessas mudanças que acontecem de tempos em tempos, é nessa época que sempre me pego pensando se tudo seria diferente se eu estivesse no Brasil. A comparação e o sentimento do que poderia ter acontecido é inevitável. Fico imaginando onde estaria trabalhando. Num clube? Numa academia? Nem uma coisa, nem outra? Será que estaria casado? Teria filhos? Morando onde?
Sei mais do que ninguém que ficar pensando essas coisas não muda nada em minha vida, porque elas simplesmente aconteceram da forma que aconteceram e nada irá mudar isso, mas não nego é bom ficar viajando nos sonhos e pensamentos.
É sempre neste período que sinto mais saudades do Brasil.
Pego-me lembrando dos imprevistos, das improvisações, que são detalhes, mas tão raros por aqui onde tudo é planejado não dando margem para que nada seja muito diferente daquilo que foi proposto.
Eu adoro improvisações. No time eu incentivo improvisar, peço aos jogadores que não trabalhem apenas dentro de um padrão, que busquem e tentem jogadas novas, que criem situações de desconforto para o adversário, que não ataquem sempre da mesma maneira, que variem o rítmo do jogo, dos passes e dos deslocamentos.
É, sinto falta de algumas coisas que tem de sobra no Brasil, e isso sempre acontece em março, na mudança do ano fiscal e letivo. Será que estou ficando engessado?
Improvisar