Estive as últimas semanas em companhia de um grande amigo. Estudamos o primário e ginásio junto, jogamos no mesmo time e disputamos os mesmos campeonatos. Houve uma breve separação na época do colégio e um novo encontro depois de formados nas respectivas faculdades. Já adultos, as obrigações profissionais nos separaram, ele para a terra do Mickey e eu para a terra dos Samurais.
O tempo passou, nossos cabelos ficaram brancos, a vitalidade não é mais a mesma e as rugas nos mostram diariamente que o tempo segue à frente impiedosamente.
Nosso encontro após quase três décadas foi ótimo. O jeito de olhar e sorrir não mudou, e os sonhos ainda pairam em sua mente. A energia que ele carrega, mesmo depois desse tempo todo é uma coisa impressionante. Foi uma surpresa agradável.
Conversamos sobre nossas vidas, os prazeres, os desgostos, as diferenças culturais que fomos "obrigados" a aprender, o convívio atual, as perspectivas futuras. Foi uma mistura de assuntos e nenhuma preocupação com datas.
Durante essas conversas veio a inegável comparação entre os países e sua gente. Concluímos como "pesquisadores" que o Brasil está distante em vários aspectos sociais e econômicos com as "nossas" atuais moradias. Descobrimos que temos as impressões muito parecidas quando vemos o Brasil de longe. Percebemos também que nos Estados Unidos e no Japão, viver não é fácil por causa das barreiras culturais, da concorrência acadêmica, da obrigatoriedade em produzir sempre mais e melhor. É difícil conseguir progresso fazendo apenas o necessário, fazendo mais ou menos. A cultura dos países que vivemos exige quase a perfeição, e isso às vezes cansa. O estresse não é maior nem menor. Somente diferente. O duro mesmo é suportar as saudades e o vazio quer invariavelmente ficam quando deixamos nossas raízes, nossa padaria preferida e o pastel da feira.
Mesmo durante os passeios que fazíamos as comparações eram fartas. A limpeza nas ruas, os cortes dos cabelos, as roupas, as lojas, a formalidade, a maneira de nos atender. Percebemos coisas que não seriam tão fáceis de descobrir se um não estivesse com o outro, abertos para ouvir e sem julgamentos.
Nesse vai e vem acabei percebendo ainda mais, o quanto isolado socialmente ficamos por causa da cultura japonesa de não comemorar nenhuma data pessoal, não ter o hábito de frequentar a casa um do outro, de festejar, seja lá o que for, apenas entre alguns membros da família. De não darem muita bola em sociabilizar as crianças, fazendo-as interagir numa festinha de aniversário, numa comemoração após um jogo. De não sabermos sequer, quem mora no apartamento ao lado.
A vida por aqui não é ruim se você não liga muito em fazer amigos, em dar algumas risadas, em jogar conversa fora num domingo ensolarado. É cada um para si, e nada mais.
O encontro foi bom porque depois desses anos todos, eu estava curioso em saber como o meu amigo estava. Foi bacana também porque pude me situar melhor em relação à vida que tenho atualmente.
Sabendo melhor sobre esse isolamento social que somos forçados a viver, tenho melhor compreensão do que fazer para reduzir esse impacto na vida de todos nós.
O encontro com o meu amigo "americano" me fez ver o Japão sob uma perspectiva diferente, que eu já sabia existir, mas que simplesmente deixei encostada em algum lugar da minha vida.
Obrigado, meu amigo, por me abrir os olhos.
Despedida