Para quem não sabe dekassegui é a mistura das palavras japonesas "deru" que significa sair com "kassegui" que é ganhar, lucrar. Então dekassegui virou aquele que sai (do seu país/cidade) para ganhar. Aqui no Japão essa situação é bastante comum principalmente no inverno quando o excesso de neve na região norte obrigam muitos a migrarem para onde possam trabalhar.
Como o envelhecimento da população e a paralisia dos jovens japoneses foi que surgiram novos caminhos para os nikkeis, filhos ou netos de japoneses. Foi assim que começaram a desembarcar brasileiros em Narita, Nagoya e Kansai.
O sonho da poupança já dura vinte anos e sobreviveu a algumas crises econômicas, mas parece que está sucumbindo à falta de preparo educacional e profissional. Foram poucos os que aprenderam a língua e tiveram motivação para entender a cultura. Menos ainda aqueles que se especializaram ou aprimoraram no trabalho. O resultado disso tudo são dekasseguis analfabetos vivendo à margem da sociedade e sentindo-se discriminados pelas faltas de perspectivas e compreensão cultural.
Até o momento a mão de obra dekassegui são utilizadas nas fábricas de auto-peças e eletrônicos, no setor de alimentos industriais e em trabalhos insalubres e perigosos onde não são exigidos nenhuma capacidade técnica ou conhecimento especial. Como dizem por aqui: "basta ter pernas, braços e dizer sempre sim". Como se vê, a obediência é regra, juntamente com a disciplina e pontualidade. Ninguém quer saber se você está doente, triste ou com dor de barriga. Dekasseguis são apenas números, prestadores de serviços temporários, mão de obra descartável com baixa exigência técnica e educacional.
Mesmo sabendo disso muitos tiveram a coragem de financiar casas e aplicaram todas as economias nas entradas e prestações. A crise de 2008 trouxe muitos de volta à realidade porque a corda rebenta sempre para o lado mais fraco, e em sã consciência nenhuma empresa iria demitir um japonês enquanto houvesse um estrangeiro trabalhando.
Mesmo hoje são poucos os dekasseguis brasileiros em situação profissional confortável porque, apesar dos esforços, continuam não entendendo as "sublinhas" dos textos, aquilo que não está escrito, mas vale como lei.
Acredito que mesmo depois de tanto anos dando duro os brasileiros não deixaram de lado seus sonhos, e nem deveriam, mas não conseguirão se livrarem tão facilmente do sofrimento de não pertencerem integralmente à sociedade e nem de sentirem-se sempre cidadãos de segunda categoria.
Passando fome