Beirada nipônica

As lágrimas de Jong Tae Se

24 jun 2010 às 01:37

Quem assistiu ao jogo entre Brasil e Coréia do Norte percebeu que havia um chorão entre eles. O time com a pior colocação, segundo a FIFA, entre os participantes da Copa começou com um teatro antes mesmo da bola rolar. Jong Tae Se era o chorão, o ator que representava a emoção em pessoa.
O time da Coréia do Norte é uma equipe sem pé nem cabeça, seus jogadores não podem sorrir, mas podem chorar.
Ninguém em sã consciência tinha a menor dúvida de que o Brasil venceria, por isso, o choro não era de nervosismo. Então, por Tae Se chorava?
Lí que chorava de emoção por ouvir o Hino Nacional norte-coreano, lí que era o sentimento de guerreiro, de um patriota. Mentira, tudo isso é mentira.
Jong Tae Se nasceu no Japão, nunca teve nenhum contato com o tirania dos norte coreanos, não passou fome, não teve sua liberdade castrada, sai e chega a hora que quer, come do bom e do melhor, possui carro, celular, Ipad e liberdade. Isso mesmo, li-ber-da-de.
O encontro de Tae Se com os demais jogadores norte coreanos foi um choque emocional. Ele que sempre viveu entre a abundância material, nem em sonho imaginou o sofrimento dos seus companheiros. Virou atração quando desembarcou de celular, relógio, notebook, Nike, óculos Ray Ban, roupas de grifes. Seus companheiros ficavam perguntando como era morar no Japão, como era jogar no Japão, como era a liberdade no Japão. Ele ficou tão comovido com a escasses material e emocional dos outros jogadores que transformou essa carência numa força extra. A força foi tanta que na hora do Hino coreano ele não se conteve e começou a chorar. Importante frisar que não tinha nada de patriótico, de guerreiro. Era pura dor de alma por descobrir que sempre foi um privilegiado, que podia dormir e acordar sem uma arma apontada em sua cabeça. Que podia rir, chorar, errar e acertar sem receber chibatadas.
As lágrimas de Jong Tae Se foram um protesto silencioso contra um regime cruel que ele descobriu nesta Copa do Mundo.
Semana que vem o chorão estará de volta e integrará a equipe do Kawasaki Frontale, que é patrocinada pela Fujitsu, possui um ótimo Centro de Treinamento e paga os salários em dia. Será que ele vai lutar contra as mazelas norte coreanas depois de tantas lágrimas?
O choro

Na equipe do Kawasaki Frontale


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