Beirada nipônica

Amoras, passado e saudades

19 mai 2016 às 09:56

Foi assim que aconteceu.
Cansado da rotina na academia de ginástica, fui correr por entre algumas árvores num local próximo de casa.
Já era final de tarde, temperatura amena, céu azul e pouco vento. Eu correndo despreocupadamente, quando me aproximo de uma amoreira. Na copa da árvore os passarinhos faziam a festa, pois pela sonoridade tinha certeza de que a frutinha era doce.
Fiquei alguns poucos segundo observando os passáros, quando noto que as amoras eram muito parecidas com algumas que haviam no quintal de minha casa, quando eu ainda era apenas um menino. Fiquei meio na dúvida, porque já fazia algum tempo que não via a fruta.
Peguei uma e comi. Pequei mais outra e comi também. Em seguida, mais uma. Aí, tive certeza de que as amoras eram idênticas ao da minha casa.
As frutinhas roxas, quase preta, no meio das folhas verdes eram destaques, pela coloração e singela beleza. Pequeninas, mas vistosas.
Foi quando, de repente, me deu uma sensação diferente, como se alguma coisa me fizesse retornar ao tempo, e em uma fração de segundos lá estava eu no Brasil, no quintal de casa ajudando a colher os frutinhos que seriam transformados numa espécie de panqueca açucarada. Lembro com detalhes até hoje, de como eram preparados essas panquecas, mais parecida com um bolinho de frutas. O sabor impossível de esquecer. A sujeira em volta da bôca e nas mãos, e aquelas manchas na camisa que não saíam de jeito nenhum.
E saber que uma árvore "igual a minha" estava aqui perto, desse lado do mundo, sem que eu nunca a tivesse visto.
O tempinho que fiquei vivendo o passado foi fantástico. Lembrei de muitas coisas, e entre elas a rua onde morava, que nem asfaltada era. O bambuzal, uma imensa descida, essa já asfaltada, onde os carrinhos de rolimã eram frequentes. Quantos não foram as raladas que tomávamos nas mãos e joelhos. Proteção não havia nenhum, muito menos medo ou outras preocupações.
Um ótimo filme me passou pela cabeça, uma saudade imensa da infância onde o importante era brincar, correr, esconder ou marcar gols em traves feitas de tijolos. Computador não nos fazia falta e não precisávamos de celulares para nada. Não nos comunicávamos por e-mail, era tudo feito olhando para os olhos do outro, acompanhado ao vivo suas reações. O sorriso, o choro, as broncas, a brigas, tudo era de verdade, não tendo como se esconder atrás de palavras sem rostos.
Aprendíamos a nos comunicar de maneira "limpa", demonstrando os sentimentos e as verdades.
Acredito que as amoras ainda durarão por mais ou menos duas semanas, e farei questão de voltar a correr pelo mesmo trajeto, só para parar em frente a árvore e ver se "retorno" novamente. Pode ser que eu não vá para o quintal de minha casa, mas quem sabe encontro meus velhos amigos ou algumas pessoas que foram importantes na minha trajetória. Sem dúvida, encontrei uma bela árvore da vida e pela vida.

Saudades do tempo


Continue lendo