No Brasil, existe uma epidemia de HIV, uma vez que um grande número de pessoas contrai o vírus todos os anos. Em Londrina, o cenário não é diferente. Apesar de ter desacelerado, o aumento do número de casos é contínuo e há muito tempo eles deixaram de estar restritos à população LGBT e aos usuários de drogas injetáveis. Segundo o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), a maior parte dos casos locais se concentra entre homens, heterossexuais e jovens.
Até novembro deste ano, 106 novos casos foram diagnosticados pelo CTA local: 90 homens e 16 mulheres. Dentre os homens, 70% são jovens com idades entre 20 e 34 anos. "Apesar de a prevalência, ou seja, o total de casos, ser maior entre os heterossexuais, a incidência de novos casos tem sido superior entre homens homossexuais. Estamos voltando ao perfil inicial da população que vivia com HIV", revelou o médico infectologista do Centro Integrado de Doenças Infecciosas (CID) Fábio Guedes Crespo.
Nos últimos 10 anos, Londrina registrou 1.553 casos de HIV. Desse total, 30% são homossexuais e 58%, heterossexuais. Considerando o mesmo período, 73% dos casos registrados são homens e 27%, mulheres. No que diz respeito à idade, 62% dos casos se concentram nas faixas de 20 a 29 anos e de 30 a 39 anos, quase empatadas. Mas, se considerados apenas os últimos cinco anos, a faixa mais jovem (20-29 anos) abrange cerca de 40% dos casos.
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Com esses 106 novos registros, Londrina acumula um total de 4.055 casos desde 1985. Mas esses números não representam a realidade do problema, segundo Crespo. "O Ministério da Saúde considera que, para cada caso detectado, outros quatro ainda não sabem que têm vírus. Nossa estimativa é de que Londrina tenha, na verdade, cerca de 20 mil pessoas com HIV", contou o especialista.
Mesmo assim, as informações das notificações são a ferramenta que o poder público tem para enfrentar o problema. Segundo Crespo, as políticas públicas de combate ao HIV/Aids têm sido direcionadas para os fatores estruturais de maior vulnerabilidade. "Em primeiro lugar, temos atuado com populações LGBT, profissionais do sexo, usuário de drogas e álcool e pessoas privadas de liberdade. Em segundo lugar, vem uma população um pouco menos vulnerável: adolescentes, jovens, negros, indígenas e pessoas em situação de rua."
O CTA de Londrina acumula 4.055 casos desde 1985
Crítica
Segundo o educador social e membro da Associação Londrinense Interdisciplinar de Aids (Alia) Paulo Wesley Faccio, a questão da escola sem partido e o conservadorismo em alta podem piorar o cenário da Aids entre os jovens. "Isso impede uma discussão mais ampla, afeta diretamente o adolescente e a Secretaria de Educação não tem um plano para resolver isso. Vivemos uma total negligência sanitária", opinou.
Recursos
Para o promotor de Defesa da Saúde Pública de Londrina, Paulo Tavares, o trabalho feito pelo poder público está aquém do necessário. "Infelizmente, nos últimos anos, a União recuou nos investimentos e isso contribuiu para o aumento no número de casos, principalmente entre os jovens", ponderou.
Segundo ele, Londrina tem uma quantia expressiva de recursos de origem federal que se acumulou ao longo dos anos. "O município não conseguiu aplicar esses recursos. Intervimos nessa questão e agora vamos destiná-los da melhor forma para campanhas, prevenção e atendimento. Queremos interferir no CID, para que o atendimento seja num lugar melhor, não tão antigo."
A destinação dos recursos acumulados serão discutidos em reunião nesta sexta-feira (1º).