A cidade de Parnaíba, no Piauí, é a principal base para quem deseja conhecer um belo espetáculo da natureza: o delta do Parnaíba. O fenômeno acontece na foz do rio Parnaíba – o segundo maior do Nordeste, atrás apenas do São Francisco. Ao se aproximar do oceano, o rio se ramifica em inúmeros braços, originando dezenas de ilhas em meio à paisagem de mangues e dunas.
Gisela é guia turística em Parnaíba. Com óculos de grau, baixa estatura e pele queimada de sol, ela olha o relógio. "Nove horas. É hora de partir", anuncia. Gisela auxilia os turistas a entrar no barco que faz o passeio ao delta. O trajeto é feito em uma embarcação conhecida como gaiola, as mesmas existentes no rio Amazonas. Com dois andares, toda em madeira, e arejada, a gaiola está pronta para partir. Dentro dela, cerca de 20 passageiros, muitos deles estrangeiros, se acomodam no andar superior. A saída da excursão acontece do Porto dos Tatus, na Ilha Grande de Santa Isabel. Gisela, a última a entrar no barco, gesticula para o piloto que é hora de iniciar a viagem ao delta.
A gaiola desliza rio abaixo pela paisagem de carnaúbas, uma palmeira típica do Piauí. Há tempos atrás, a cera extraída da árvore já foi o principal produto econômico de Parnaíba. Hoje a carnaúba não tem a mesma importância, mas ainda garante o sustento de muitos ribeirinhos que transformam suas fibras em redes e toalhas.
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Dunas
Gisela apanha o microfone e comunica que, no andar inferior do barco, há um bar com cerveja gelada e caipirinha. Com a dica, muitos seguem para lá. Outros acenam para crianças dentro de uma canoa com vela feita de lona. "O sonho delas é ser pescador, é ter um barquinho e sair com os turistas em direção ao mar. Exatamente como estamos fazendo", conta Gisela. Os meninos acenam de volta, encantados com a pele rosada dos turistas estrangeiros: "Gringo! É gringo! Olha!", gritam.
A Descoberta do Delta
O Delta do Parnaíba foi descoberto, por acaso, pelo navegador português Nicolau de Resende. O navio que comandava, repleto de ouro, naufragou no litoral norte do país. Salvo por índios tabajaras, Nicolau decidiu permanecer na região para tentar encontrar os destroços do navio e, consequentemente, o tesouro. Porém, em vez de encontrá-lo, descobriu uma outra preciosidade: o delta do Parnaíba. Em seus relatos, o navegador revela ter descoberto um acidente hidrográfico raro: uma foz que se abre em inúmeros canais, criando um labirinto circundado por ilhas onde o mais experiente dos navegadores facilmente se perderia.
Com o transcorrer do passeio, o barco diminui a velocidade. A viagem cruza um estreito igarapé em meio a uma área de manguezal. Gisela conta haver jacarés e macacos-prego escondidos em meio à vegetação. O piloto segue com cuidado: "é preciso estar atento para não se perder ou encalhar em algum banco de areia", diz.
O Delta do Parnaíba
O rio Parnaíba, com mais de 1400 km de extensão, ao se aproximar de sua foz, ramifica-se em vários braços, originando dezenas de pequenas ilhas. O nome delta se deve ao alfabeto grego, cuja letra de mesmo nome é representada por um triângulo. Visto de cima, é este o formato da foz do rio Parnaíba. Esse raro fenômeno da natureza acontece na divisa entre os estados do Piauí e Maranhão. O Delta do Parnaíba, com área de 2700 km, é o único delta das Américas que acontece em mar aberto. Semelhantes a ele, somente os deltas do rio Nilo, na África, e o do rio Mekong, na Ásia.
Delta do Parnaiba
O barco ancora em uma praia fluvial ao lado de uma imensa duna de areia. Gisela convida todos a provar as fatias de melancia expostas sobre uma bandeja. Em seguida, conta que as dunas ao lado do barco têm a cor amarelada por causa de sua origem fluvial. "Diferentemente das dunas dos lençóis maranhenses, que são brancas por causa do oceano, as daqui têm tons dourados", explica a guia. Os passageiros apanham as fatias de melancia. Depois de se deliciarem com a fruta, uns pulam no rio para se refrescar, outros tiram fotos da imensa duna. E há ainda aqueles que descem correndo da areia e se jogam espalhafatosamente na água doce.
Do Doce ao Sal
Minutos depois de deixar para trás as imponentes dunas de areia, o barco se aproxima da foz. O encontro do Parnaíba com o Atlântico é anunciado primeiro por uma leve brisa, depois por uma imponente agitação nas águas. Depois de ter cruzado o cerrado, os campos de carnaúba, os manguezais, é hora do Parnaíba se entregar ao esplendor do mar. Suas águas doces encerram sua longa jornada de forma pomposa ao se fundir com as águas salgadas do Atlântico. Depois das dunas douradas, surge a paisagem de uma praia deserta de águas mornas. Nesse instante, o doce finalmente se encontra com o sal.
Fonte: Brasil Sabor