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Vila Velha e Canyon Guartelá buscam certificação mundial

09 out 2009 às 12:44

O patrimônio natural dos Campos Gerais guarda (e conta) valiosa parte da história da formação da Terra. Os arenitos esculpidos em formas simbólicas, as furnas e a Lagoa Dourada do Parque Estadual Vila Velha, o Buraco do Padre, o Canyon Guartelá, quedas d'águas e cachoeiras encravadas na natureza compõem uma paisagem deslumbrante. As estrias glaciais de Witmarsum, no município de Palmeira, registram que, há mais de 300 milhões de anos, a região era coberta por geleiras. Outra forma de relevo especial é a Escarpa Devoniana, espécie de degrau ou elevação topográfica que faz o limite entre o primeiro e o segundo planalto, com até centenas de metros de desnível.

Trocando em miúdos, o magnífico conjunto geológico dos Campos Gerais aliado às exposições de rochas é prova de que ali já foi mar (fósseis de invertebrados marinhos), também existiu glaciações e vulcões (rochas vulcânicas). Tudo isso somado a outras riquezas arqueológicos, à tradição sóciocultural do Tropeirismo, ao potencial turístico e ao fato da região já servir como espaço de interesse para estudos didáticos e científicos sobre geodiversidade e biodiversidade, motivou a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e a Minérios do Paraná (Mineropar) a buscarem o reconhecimento mundial desse patrimônio natural.


UEPG e Mineropar trabalham para, em cerca de dois anos, conquistar o selo de ''Geoparque dos Campos Gerais'' junto à Rede Global de Geoparques criada pela Unesco. ''Arrisco a dizer que é uma das áreas mais especiais do Paraná. Do ponto de vista geológico é uma das principais áreas para receber grupos de universidades, como laboratório ao ar livre. Aqui vem pesquisadores até de fora do Estado e do país'', contextualiza o professor do Departamento de Geociências da UEPG, Gilson Burigo Guimarães. A ideia é que a certificação estimule o desenvolvimento regional, amplie a vocação para o geoturismo e contribua para fortalecer a identidade regional.


A região fisiográfica dos Campos Gerais tem cerca de 17 quilômetros quadrados, engloba 13 municípios localizados no segundo planalto e tem como principais formações geológicas a Ponta Grossa e a Furnas, com idade estimada de 450 milhões de anos. ''O conceito de geoparque não exige que áreas sejam desapropriadas, como as políticas nacionais para criação de parques. Pelo contrário, é necessário que a população viva nessas áreas e tenha benefícios sociais e econômicos, focando no desenvolvimento sustentável, além de servirem como fonte de conhecimento e informação. Essas são missões fundamentais para ganhar o reconhecimento da rede'' explica Guimarães.


Geoconservação e envolvimento da comunidade são fundamentais


No Brasil, apenas a Chapada do Araripe, no Ceará, recebeu o selo de Geoparque, em 2006. A Rede Global já certificou 57 Geoparques no mundo, sendo a maior parte deles na China. Para conquistar o selo, o primeiro passo é praticar a geoconservação, fazendo uma seleção dos principais atrativos geológicos.


A UEPG teve um projeto de pesquisa com esse objetivo aprovado pela Fundação Araucária orçado em R$ 40 mil. Uma equipe de dez pesquisadores, com apoio da Universidade de Minho (Portugal), fará o levantamento geológico dos Campos Gerais, catalogando as áreas mais importantes que servirão de laboratório de estudos e roteiros geológicos.


Essa é uma forma de atender também ao segundo requisito para obter o selo, que é possibilitar ao grande público acesso a essas áreas com políticas de conservação. ''A maior parte desse patrimônio já está protegido, outros estão localizados dentro de unidades de conservação, então, já estamos avançados nesse sentido'', comemora Gil Piekarz, geólogo e coordenador do Geoturismo e Geoconservação da Mineropar, completando que o desenvolvimento sustentável completa o tripé que fundamenta um geoparque. ''A população que mora dentro de um geoparque deve ganhar uma renda com esse novo produto, daí a necessidade do patrimônio geológico estar mesclado com outras atividades'', disse.


''Já existem exemplos bem-sucedidos, como o de um produtor de leite de Witmarsum, que abriu um restaurante para atender a demanda de alunos das escolas de Curitiba que se deslocam até a região para conhecer a vida no campo e as estrias glaciais'', conta ele, reforçando que o geoturismo é uma forma de agregar valor e gerar renda local.


Para difundir a proposta para a sociedade, que precisa participar de forma ativa nesse processo, a UEPG e a Mineropar estão organizando audiências públicas em cada um dos municípios da região. Até agora já ocorreram audiências em Tibagi, Ponta Grossa, Castro e Piraí do Sul.


Selo pode divulgar turismo no Exterior


O interesse em obter o selo de ''Geoparque dos Campos Gerais'' está na exposição em escala mundial que o turismo da região pode ganhar com essa certificação. Sem falar que integrar uma rede global oferece o intercâmbio de atividades e experiências com outros Geoparques.


''Queremos fazer direito, não temos pressa em conseguir essa certificação'', disse Gilson Guimarães, explicando que, após a entrega do dossiê à Rede Global, uma comissão virá aos Campos Gerais checar se o que está no documento traduz a realidade.


Caso aprovado, só na próxima conferência da Rede Global de Geoparques, realizada de dois em dois anos, é que se formaliza o título de integrante da rede. ''Recebemos a visita do coordenador da Rede Européia de Geoparques, o geólogo grego Nickolas Zouros, no ano passado - no Congresso de Geologia em Curitiba - que nos aconselhou a apenas costurar o envolvimento com a comunidade, porque seria tranquilo conquistar o selo'', conta Gil Piekarz. ''Ele até nos disse que Curitiba também deveria buscar esse título porque tem potencial para ser um Geoparque'', acrescenta ele.

O selo de Geoparque, que delimita uma área que tem não só um valor geológico relevante, mas também histórico, arqueológico e natural, ainda é mais um fator de preservação do ecossistema. ''O selo encoraja o homem a fazer o uso sustentável do meio ambiente ao trabalhar com os monumentos geológicos. A filosofia de Geoparques não foi criada em cima de rochas, mas de pessoas. Temos que trabalhar porque a comissão da Unesco não virá aqui para avaliar um projeto, mas um Geoparque já em andamento'', informou Gil Piekarz, completando que, a cada quatro anos, a Unesco faz uma reavalização e decide se ele permanece ou não com o selo.


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