Bondes elétricos que circularam em Curitiba na primeira metade do século 20 podem voltar a transportar passageiros no centro da cidade. Projeto da Prefeitura prevê a instalação de uma nova linha de bondes entre o Passeio Público e a Praça Eufrásio Correia, passando pelas ruas Riachuelo, Barão do Rio Branco, Conselheiro Laurindo e XV de Novembro. O projeto de atrativo turístico, cultural e de resgate da memória da cidade foi desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e faz parte das ações de revitalização da área central da cidade, iniciadas em 2005.
A volta dos bondes às ruas do Centro será feita em parceria com a iniciativa privada. "A exemplo do que ocorreu na revitalização do Paço Municipal, a Prefeitura não vai aplicar recursos do tesouro municipal, que têm prioridade de investimento na área social", informa o assessor de Projetos Especiais da Prefeitura, Maurício Sá de Ferrante. "A proposta tem grande apelo turístico e é ambientalmente correta, já que o bonde é elétrico. Neste momento, estamos em contato com potenciais patrocinadores do projeto."
O serviço a ser oferecido pelo Bonde Turístico não concorrerá com o sistema regular de transporte coletivo. permitirá o embarque e desembarque ao longo do caminho e terá uma tarifa diferenciada. A expectativa do Ippuc é de que o bonde seja mais um indutor do crescimento econômico na região, a partir do eixo formado pelas ruas Barão do Rio Branco e Riachuelo.
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Novo Centro
Desde 2005, a Prefeitura trabalha na revitalização do Centro. A Praça Tiradentes, Marco Zero da cidade, foi totalmente reformada. Com ruínas históricas preservadas e expostas sob vidro, a praça virou atração turística, assim como o prédio do Paço Municipal, na Praça Generoso Marques, que foi restaurado pela Fecomércio para ser um centro cultural. A região também ganhou câmeras de vigilância, novas calçadas, nova iluminação cênica e Posto da Guarda Municipal. A rua Riachuelo, um dos mais tradicionais pontos de comércio do Centro, também será revitalizada.
O Birney volta às ruas
Um dos bondes que será revitalizado para voltar a circular no Centro é um Birney. Fabricado nos Estados Unidos no início da década de 20, ele transportou passageiros em Curitiba até 1952, quando foram desativadas as linhas de bonde na cidade. O Birney chegou a ficar exposto na Praça Tiradentes, como Posto de Informações Turísticas, mas foi recolhido de diversos ataques de vândalos.
O projeto da Prefeitura prevê a é iniciar o novo serviço turístico com dois bondes, que terão frequência de 60 em 60 minutos, percorrerão os 3,4 km da viagem a uma velocidade entre 8 km/h e 10 km/h. Serão implantados trilhos no trajeto.
Turistas aprovam idéia
Em 2007, o Ippuc fez uma pesquisa com turistas que visitavam a cidade. Foram entrevistadas 1.785 pessoas, das quais 95,6% disseram que usariam o bonde turístico. Perguntados quanto às razões pelas quais fariam o passeio, 52,7% dos entrevistados usariam o bonde para conhecer a cidade e por curiosidade. Outros 24,7% disseram que fariam o passeio para conhecer o Centro, conhecer a cidade e para ver os pontos turísticos, e 14,1% escolheriam o Bonde Turístico pela oportunidade de relembrar o passado e por nostalgia. As entrevistas foram feitas em nove locais, como aeroporto, rodoviária, parques da cidade e com passageiros da Linha Turismo.
Primeiros bondes eram puxados por mulas
Ícone da mobilidade nos séculos 19 e 20, o bonde foi o primeiro transporte coletivo de Curitiba. Os primeiros veículos, que começaram a funcionar em dezembro de 1887, partindo da antiga rua da Liberdade (atual Barão do Rio Branco), tinha estrutura de madeira e eram puxados por mulas. A estação central ficava no atual cruzamento da avenida Visconde de Guarapuava com a rua Barão do Rio Branco, perto da Praça Eufrásio Correia.
A primeira linha de bondes elétricos foi implantada em 1912 , do Centro ao Portão, à época um bairro essencialmente operário. Com o tempo, a estrutura de madeira foi substituída por carroceria metálica.
Viagem histórica e cultural
O itinerário do bonde será uma viagem pela história de Curitiba. Serão sete pontos de parada, da Praça Eufrásio Correia ao Passeio Público. A garagem e oficina do bonde será no cruzamento da Visconde de Guarapuava com a Barão do Rio Branco, em um prédio do município em frente à Câmara Municipal.
Conhecida como Praça do Semeador por causa da escultura O Semeador, de Zaco Paraná, a Praça Eufrásio Correia foi inaugurada em 1912. A área foi ponto de encontro para a comunidade curitibana, trabalhadores da ferrovia, imigrantes e turistas. Onde hoje está o Shopping Estação funcionava a antiga estação ferroviária da cidade. A primeira locomotiva chegou à estação em 1884, em clima de festa, com direito a apresentação da banda de Paranaguá e fogos. No ano seguinte a ferrovia foi inaugurada.
Além do comércio que se desenvolveu na região e das indústrias cervejarias, moinhos, fábricas de fósforo, erva-mate, sabão que cresceram atrás da estação, a região ficou conhecida pelos hotéis, nde eram organizadas festas para os curitibanos, roteiros de viagens para os turistas e foram os primeiros locais a acomodar os imigrantes europeus que chegaram na cidade.
Tombada pelo Patrimônio do Estado, a praça Eufrásio Correia é uma das mais antigas da cidade e em seu entorno estão prédios históricos, entre eles a Câmara Municipal de Curitiba, que foi sede da Assembléia Legislativa do Paraná. Ao longo da rua Barão do Rio Branco, entre as edificações antigas, está o Museu da Imagem e do Som (MIS), em frente ao Centro de Convenções. O prédio foi sede do Governo do Estado.
Na Praça Generoso Marques, está o Paço Municipal, recentemente revitalizado pela Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio) e transformado em espaço cultural. A edificação de arquitetura neoclássica é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ao desembarcar na Praça Generoso Marques, é possível seguir até a Catedral e o Setor Histórico da cidade.
Depois de passar pela Riachuelo, o visitante chegará à Praça 19 de Dezembro onde está a escultura Homem Nu, do escultor de Erbo Stenzel, marco do centenário da emancipação política do Paraná, comemorado em 1953. Na praça estão ainda a Mulher Nua, obra de Humberto Cozzo, e painéis de Poty Lazzarotto, que representa a evolução política do estado, e Erbo Stenzel, sobre os ciclos econômicos do Paraná.
Da praça, o Bonde Turístico chegará ao Passeio Público, primeiro parque da cidade e zoológico, construído em 1886.