O processo de tombamento do centro histórico de Antonina, no litoral do Paraná, chegou ao fim nesta semana em reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural na sede do Instituto do Patrimônio Histórico de Artístico Nacional - Iphan, em Brasília. De acordo com o parecer técnico elaborado pelo Iphan, a área a ser tombada materializa os processos de ocupação territorial no Sul do Brasil, particularmente no Paraná, e está diretamente ligada ao primeiro ciclo de exploração do ouro no país.
O tombamento do conjunto histórico e paisagístico de Antonina integra a política do Iphan que visa ampliar as áreas protegidas e inclui Antonina no rol das cidades históricas do Brasil. A extensão do tombamento compreende o centro histórico da cidade e o complexo das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM). Para o conjunto Matarazzo, será incentivada a continuidade da atividade portuária, por meio de diretrizes para ocupação da área, desde que sejam preservados e recuperados os imóveis remanescentes mais importantes individualizados no tombamento.
História
Leia mais:
Governador sanciona leis para fomento do turismo rural
Seis startups que ajudam e incentivam o turismo; conheça!
Arquipélago turístico de Flórida Keys voltará a receber turistas em outubro
Emissão de vistos eletrônicos brasileiros começa em novembro
A região da Baía de Paranaguá foi uma das primeiras áreas exploradas pela Coroa Portuguesa na Região Sul do Brasil. Com sua extensa entrada para o continente, foi considerada um local estratégico para o controle da região e para a busca por índios e metais preciosos. A exploração de ouro na baía impulsionou o desenvolvimento inicial de Paranaguá, bem como das localidades vizinhas, como Antonina, Guaraqueçaba e Morretes.
As primeiras descobertas de jazidas em Minas Gerais, no início do Século XVIII, deflagraram o processo conhecido como "corrida do ouro" e fez com que as povoações formadas no litoral do Paraná voltassem suas atividades para a subsistência. Com a elevação de Antonina à categoria de Vila, em 1798, e com a reabertura dos portos brasileiros dez anos mais tarde, a disputa entre Paranaguá e Antonina pelo controle da atividade portuária se acirra. Como resultado deste embate político, o Caminho da Graciosa é reaberto para facilitar o escoamento da produção agrícola do interior do estado para o litoral.
A partir de 1820, com a implantação de engenhos de erva mate para exportação, o incremento de atividade portuária levou a um rápido crescimento urbano, com a abertura de novas ruas, a construção das igrejas de São Benedito e de Bom Jesus do Saivá, do primeiro trapiche e do mercado de Antonina. Obras para tornar o Caminho da Graciosa carroçável e a construção da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, na segunda metade do Século XIX, intensificaram a comunicação entre Antonina e as demais cidades paranaenses.
A partir de 1914 houve um novo período de crescimento para a cidade, com o início das atividades das Indústrias Matarazzo. Devido à falta de investimentos, ao assoreamento dos canais da baía e ao progressivo aumento do calado das embarcações, a partir de 1930, o Porto de Antonina entra em decadência. Várias empresas fecharam as portas, levando a cidade, mais uma vez, à estagnação econômica. Em 1972 houve o fechamento das Indústrias Matarazzo e, em 1976, a desativação do ramal ferroviário Morretes-Antonina.
Paisagem natural
O ambiente natural de Antonina, formado pelas montanhas da Serra do Mar e pela Baía de Paranaguá, foi determinante para a implantação da cidade neste local e para a forma como se deu seu crescimento. Por esse motivo, Antonina foi descrita como pitoresca por viajantes que por ali passaram no Século XIX, como o engenheiro inglês Thomas Bigg Wither: "um lugarejo bonito e até pitoresco, situado, como está, entre a terra e a água, ao pé de gigantesca cadeia de montanhas, a Serra do Mar".
A escala e porte de Antonina relacionam-se harmonicamente com o ambiente natural em que está inserida. Este conjunto preserva uma rara qualidade ambiental nas atuais cidades brasileiras e configura-se em potencial para seu desenvolvimento social.
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Também está na pauta da reunião do Conselho Consultivo em Brasília a proposta de tombamento dos centros históricos de Manaus, no Amazonas, e das cidades piauienses de Oeiras e Piracuruca. Os conselheiros também vão avaliar a proposta de Registro como Patrimônio Cultural do Ofício e dos Modos de Fazer as Bonecas Karajá. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, presidido pelo presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros de instituições como Ministério do Turismo, Instituto dos Arquitetos do Brasil, Sociedade de Arqueologia Brasileira, Ministério da Educação, Sociedade Brasileira de Antropologia e Instituto Brasileiro de Museus – Ibram e da sociedade civil.