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Região de Londrina: que tal um passeio pela história do Patrimônio Heimtal?

08 jul 2016 às 11:04

Os traços alemães ainda estão por todo lado no Patrimônio Heimtal, na zona norte de Londrina. Uma das primeiras colonizações rurais formadas em Londrina ainda preserva muito de sua história, enraizada na cultura alemã. Parte dessas memórias serão relembradas pelo Circuito Histórico, uma caminhada que será realizada no próximo domingo (10), a partir das 8h30, e vai percorrer os principais pontos da tradicional comunidade. A ação é fruto de parceria entre o grupo de trilhas Londrinapé e a Secretaria de Municipal de Educação.

O Heimtal foi selecionado por ser o primeiro núcleo rural marcante para o início da cidade de Londrina. E para começar o "tour" recheado de boas histórias, a passagem pela Escola Municipal Padre Anchieta é quase obrigatória. Por lá, ainda está de pé parte da construção de madeira levantada em 1931, quando foi fundada como Escola Alemã. A casa arquitetada ao estilo do país europeu hoje serve de anexo ao prédio de alvenaria construído posteriormente e que atende 460 alunos, a maioria filhos de moradores do próprio patrimônio.


"A escola daquela época não era só escola, servia para encontros religiosos bailes e confraternizações. E nós, de certa forma, temos uma preocupação de manter pontos dessa tradição. Uma das coisas que a gente preserva é essa cultura muito forte antigamente de receber famílias inteiras aqui", citou o diretor da escola, Elias Vilas Boas, que está à frente da instituição há 14 anos.


A escola, que completa 71 anos neste mês, mantém um trabalho de preservação de sua história e também do patrimônio. Um trabalho que vai detalhar a linha do tempo do patrimônio está em fase final de produção e tem previsão de término para o ano que vem. O processo de tombamento da antiga casa de madeira também está em andamento há mais de dez anos. "Aqui praticamente começou o ensino na cidade de Londrina e por isso brigamos muito pela preservação de tudo que resgatamos", pontuou o diretor.


Aconchegante



Saulo Ohara/Grupo Folha

Capela São Miguel Arcanjo: palco de muitas celebrações que até hoje povoam as memórias dos pioneiros


Saindo da escola, vale também a conhecer a Capela São Miguel Arcanjo, erguida em 1933. A construção pequena, mas aconchegante, foi palco de muitas celebrações que até hoje povoam as memórias dos pioneiros. A ex-trabalhadora rural Nair Caponi Fatoleni, de 83 anos, até se emociona ao falar do cantinho onde faz suas preces e agradecimentos todas as semanas. "Essa Igreja é tudo na minha vida", resumiu.


Ela foi uma das primeiras catequistas. "Tenho só uma filha, que casou e teve um casal de filhos. E hoje eles são do coral de cantos. É uma ligação muito forte", destacou. "Lembro que meu pai comprou um lampião e, como não tinha luz naquela época, ele levava para iluminar a igreja. Ele saía com o lampião pelas ruas e o pessoal vinha atrás, por que já sabia que era hora de ir para igreja", recordou a pioneira.


Tranquilidade


O nome Heimtal vem do alemão e significa "Vale da Vida". Significado esse que traduz muito bem o tamanho da importância da comunidade na vida da dona Nair Caponi Fatoleni, de 83 anos. Nascida em Jacutinga, no interior mineiro, ela veio de Pouso Alegre, no mesmo estado, a Londrina, aos 16 anos. "Toda vida gostei muito daqui. Construímos a vida nesse lugar e é muito bom. Tenho até bisneto com 27 anos que ainda mora no Heimtal. Só saio daqui direto para o cemitério", garantiu a idosa, que mora há quase 60 anos na mesma casa, localizada na Avenida Ludwig Ernest. "Tem muita gente que mudou, fez a vida e agora voltou, porque é muito gostoso", continuou.


Saulo Ohara/Grupo Folha

"Construímos a vida nesse lugar e é muito bom", afirma Nair Caponi Fatoleni


Marcos Strass é uma dessas pessoas. Filho de pioneiros, o empresário de 49 anos nasceu e passou toda sua infância no Heimtal. "Aqui era muito tranquilo. Ficávamos o dia todo de bermuda e sem camiseta. A gente só colocava uniforme para ir à escola", resgatou. Por ali, também construiu sua carreira, trabalhando na fábrica de embutidos da família entre 1993 e 2007, quando saiu para se tornar professor. Desde então, também mudou-se para o centro de Londrina. Mas há um ano e meio, a ligação foi restabelecida para administrar o comércio de embutidos, agora instalado em uma construção de 47 anos, próximo à entrada do patrimônio. "Tenho intenção de voltar, mas não é prático. Tem o trânsito e o resto da família consolidada em Londrina. Sinto falta, as pessoas aprendem a gostar daqui", disse. "A dificuldade é a convivência coletiva, não vemos mais as pessoas brincando na praça, onde a gente jogava bola quando moleque", lamentou.

Além da capela, do comércio da família Strass e da escola, o Circuito Histórico, que será realizado no domingo (10), inclui o Córrego Mosel, o campo de futebol, o cemitério – o primeiro de Londrina – e o local onde funcionou a primeira Igreja Luterana da cidade. O passeio guiado é gratuito, está aberto à participação de pessoas de todas as idades e começa às 8h30, no Restaurante Porco no Tacho. "Queremos promover uma reflexão sobre a importância do patrimônio histórico e da memória no processo de construção da identidade", indicou a integrante do apoio pedagógico de História da Secretaria Municipal de Educação, Eliane Candoti.


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