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Erguida por tropeiros, Castro respira história e encanta turistas

20 dez 2013 às 12:05

Dias atrás publicamos aqui no Bonde uma reportagem sobre Tibagi, uma cidade no centro-leste do Paraná perfeita para quem curte belas paisagens e gosta de se aventurar pela natureza. Mas, se você não faz o estilo aventureiro, a região também tem atrações imperdíveis. Quer um exemplo? Há poucos quilômetros de Tibagi e do Canyon Guartelá está Castro. Com cerca de 67 mil habitantes, a cidade surpreende pelo potencial turístico, sendo perfeita para quem quer estender a viagem e aproveitar para conhecer um pouco mais da história da cidade, do Paraná e do Brasil.

A dica é começar o passeio pela Fazenda Capão Alto. O local data de 1704 e em meados de 1730 virou ponto de parada dos tropeiros, que viajavam do Rio Grande do Sul até Sorocaba, em São Paulo, e aproveitavam as margens do rio Iapó (o mesmo que corta os desfiladeiros do Canyon Guartelá) para montar acampamento e descansar.


Hoje, a fazenda conta com um grande casarão construído anos mais tarde (por volta de 1860) e ruínas de várias outras construções que não resistiram à ação do tempo. Quem chega ao local é recepcionado por João Klempovus, o "seu João", uma atração à parte. Com 60 anos, e trabalhando há 12 na fazenda, ele é o responsável pela manutenção do local e por guiar os turistas. É de chapéu e, muitas vezes vestido de tropeiro, que ele recebe os visitantes para contar as histórias da Fazenda Capão Alto. O cigarro de palha na mão também é marca registrada e ajuda a compor o "personagem" de seu João, que logo cativa os turistas. É ele quem aponta e chama atenção para cada detalhe da fazenda, que encanta o visitante, ora pela história, ora pela narrativa.


No casarão, as paredes de taipa, construídas com barro, as pinturas feitas a mão e ricas em detalhes e os azulejos portugueses originais surpreendem. Ainda assim, é possível ver as marcas que o tempo deixou no local, que em 1983 foi tombado pelo Governo do Estado (e hoje pertence a um empresário), mas que nunca recebeu obras de revitalização ou de preservação. Com área de 17 hectares, a fazenda tem ainda um estábulo aos pedaços, uma antiga casa do capataz e as estruturas de barro no local onde um dia esteve a primeira igreja de Castro, a capela de Santo Antônio, padroeiro dos tropeiros. Além das construções, árvores gigantes com mais de 200 anos complementam a paisagem. Há ainda uma árvore de cerca de 500 anos, de tamanho impressionante, que caiu no meio do matagal depois de apodrecer após ser atingida por um raio, que foi "resgatada" para ser exposta aos turistas.


A Fazenda fica aberta para visitação de terça a domingo, das 8h às 18h e tem um custo de R$ 5 por pessoa.


Segundo a história, a Fazenda Capão Alto tinha tudo para ser o local onde o povoado de Castro teve origem. Porém, a propriedade foi repassada para alguns padres, que expulsaram e proibiram a permanência dos tropeiros. O grupo, então, partiu para onde hoje está o centro histórico de Castro e fundaram o povoado.


Gina Mardones


É este local que atualmente abriga o Museu do Tropeiro, a Casa da Sinhara e a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Sant’Anna, além de outros pontos turísticos. O Museu do Tropeiro é um dos destaques da cidade. O acervo fica na casa mais antiga da região, com cerca de 200 anos. O local é tão antigo que atualmente passa por obras de recuperação. Enquanto a casa permanece fechada aos visitantes a exposição será transferida para a Casa da Praça. O Museu do Tropeiro foi criado em 1977 e tem mapas, documentos, móveis e objetos da época. São mais de 1.400 peças que formam o museu mais completo do país sobre o tropeirismo.


Já a Casa da Sinhara é uma extensão do museu e retrata a vida da mulher na época dos tropeiros. A exposição com objetos, roupas, louças e outras diversas peças (a mais antiga com 200 anos de idade) funciona na segunda casa mais antiga de Castro. Para entrar é preciso vestir uma espécie de chinelos de pano para preservar o chão do local. Já a Igreja de Sant’Anna, que teve a construção iniciada por escravos no século XVIII, tem como destaque os lustres de cristal doados por D. Pedro II.


Castrolanda


Da água para o vinho. Essa é a sensação de quem deixa o centro de Castro para visitar a colônia de Castrolanda. Com cerca de 3 mil habitantes, a região nada mais é do que um pedaço da Holanda no Brasil. Iniciada em 1951, quando os primeiros imigrantes holandeses chegaram à região, Castrolanda conta com casas e propriedades rurais no estilo europeu e até um Moinho, considerado um dos maiores do mundo.


O desenvolvimento da colônia ocorreu juntamente com o da cooperativa Castrolanda, que teve início com 50 sócios, todos imigrantes, e hoje conta com mais de 750 cooperados. A cooperativa começou as atividades com a produção de leite e atualmente trabalha também com ração, batatas, café e alguns outros produtos. Com pouco mais de 60 anos de história, a cooperativa tem faturamento anual de R$ 1,5 bilhão e unidades em outras cinco cidades, inclusive no Estado de São Paulo.


Gina Mardones


O principal ponto turístico da região é o Moinho, onde funciona também um Memorial da Imigração Holandesa. A construção foi feita em 2001, em comemoração ao cinquentenário da Colônia Castrolanda. O experiente arquiteto holandês, Jan Heijdra veio ao Brasil para coordenar a construção, que hoje funciona de maneira artesanal, mas que tem potencial para produzir 3 mil quilos de farinha trigo por dia. A construção teve como molde os moinhos da região norte da Holanda, de onde vieram a maioria dos imigrantes, mas o Moinho acabou superando o modelo. Ele tem 37 metros de altura e suas pás possuem envergadura de 26 metros.


O responsável e operador do Moinho é Rafael Rabbers, único moleiro do Brasil, que participou da construção da obra e posteriormente foi treinado para colocá-la em ação. O Moinho opera normalmente nos fins de semana. A área de visitação, composta por quatro níveis, fica aberta de sexta-feira a domingo, além de feriados, das 14h às 18h. A entrada custa R$ 6.


Próximo ao Moinho fica o museu Casa do Imigrante Holandês, inaugurado em 1991, que conta como era a vida dos primeiros imigrantes que chegaram a Castro. O local fica aberto às sextas-feiras das 14h às 18h e é preciso pagar R$ 2 pela visita. Para quem quer saber como são as propriedades rurais europeias, a dica é percorrer os sítios e fazendas próximos a Castrolanda. As vacas holandesas, que continuam como opção para a pecuária leiteira da região, são um atrativo a mais.


O hotel Borgen é uma opção requintada e mais contemporânea para quem quer se hospedar na Castrolanda. Já a pousada Oes Erhuis oferece quartos temáticos e um ambiente tipicamente holandês para quem visita a região. Nesta última, há ainda café da manhã típico da Holanda e passeios de triciclo e pedalinho.


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