Bonde Viagem

As belezas de uma Terra Santa e dividida

16 dez 2009 às 11:59

Da Jordânia aos territórios palestinos ocupados por Israel é um pulo, pelo menos do ponto de vista geográfico. Basta atravessar a Ponte Rei Hussein, que cruza o Rio Jordão ao norte do Mar Morto. Na prática, porém, a burocracia, as medidas de segurança e os horários de funcionamento dos postos fronteiriços podem complicar um pouco a viagem. Se você quer conhecer toda a Terra Santa sem ter dor de cabeça, é bom se informar bem sobre os procedimentos antes de viajar.

Além dos maravilhosos monumentos religiosos e históricos, vale visitar essa região conflituosa para ter uma visão mais realista dos problemas ali existentes. A intensidade e a duração das disputas entre israelenses e palestinos são infinitamente maiores do que o território em questão.


A distância entre Belém e Ramallah, sob controle da Autoridade Nacional Palestina (ANP), para Jerusalém, sob jugo israelense, é ínfima para os padrões brasileiros. Viajar de um ponto a outro seria, a grosso modo, como ir da Avenida Paulista ao Centro de São Paulo, ou do Centro do Rio de janeiro a Copacabana.


Igreja da Natividade, principal ponto turístico de Belém


O problema é que no meio do caminho há um muro (construído em 2004 pelo governo israelense) e vários postos de controle - são cerca de 600 só na Cisjordânia -, o que torna o deslocamento na região bem mais complicado do que as pequenas distâncias deixam parecer.


Isso não impede o fluxo de turistas em busca dos lugares santos e históricos dos dois lados do muro, mas complica a vida dos cidadãos palestinos que precisam, por exemplo, de autorização do governo israelense para ir a Jerusalém trabalhar.


Vale lembrar que até 1967, quando ocorreu a Guerra dos Seis Dias, Jerusalém Oriental estava sob domínio árabe e a Organização das Nações Unidas (ONU) a considera como território palestino ocupado, sendo que muitas famílias estão separadas pelo muro.


Alexandre Rocha/ANBA


Estrela de prata marca o local do nascimento de Jesus


O muro de mais de 800 quilômetros que cerca e Cisjordânia é feio, parece com as muralhas de um presídio. E é assim que muitos palestinos se sentem. "Estamos confinados numa prisão a céu aberto", comentou o vice-prefeito de Belém, George Sa’adeh.


Como o muro de Berlim, e muitos outros em cidades ao redor do mundo, o muro da Cisjordânia virou alvo de manifestações artísticas. Os grafiteiros já pintaram nele suas impressões sobre o conflito israelo-palestino e a estrutura em si. Na Palestina, a arte da rua representa o sentimento de um povo.


Cidade Natal


Ao entrar na Cisjordânia, porém, não espere encontrar um grande bolsão de pobreza. Apesar da alta taxa de desemprego na região, Belém, por exemplo, é uma cidade bonita, limpa e bem cuidada.


Alexandre Rocha/ANBA


Padre reza no alto do Calvário


Sua principal atração turística é a Igreja da Natividade, que marca o lugar onde os cristãos acreditam que nasceu Jesus Cristo. Como a Terra Santa em geral, muitos monumentos históricos e religiosos locais são também divididos. A Igreja da Natividade é na verdade um complexo de construções com partes pertencentes aos ortodoxos gregos, ou aos cristãos armênios, ou aos católicos romanos.


A primeira igreja foi construída no local na época do imperador Constantino, que adotou o cristianismo como religião oficial de Roma, por sua mãe, Helena. A estrutura existente hoje é basicamente a que foi erguida pelo imperador bizantino Justiniano, com adições da época das cruzadas.


Embaixo do altar ortodoxo há uma gruta. Nela, uma estrela de prata marca o local do nascimento. Esse ponto exato pertence à Igreja Ortodoxa. Quase em frente há outro nicho, com uma pintura, que indica o lugar da manjedoura. Esse outro ponto é da Igreja Católica Romana.


Cidade sagrada: atenção aos costumes


Alexandre Rocha/ANBA


O Santo Sepulcro


Esquema semelhante de divisão há Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, construída em cima dos lugares onde o Cristo foi crucificado e enterrado. O complexo meio labiríntico envolve todo o Monte Calvário, sobre o qual estão altares de diferentes denominações cristãs. Vidros colocados ao lado dessas estruturas deixam o visitante ver a pedra original.


Logo abaixo, e logo na entrada da igreja, está a pedra onde o corpo de Jesus foi preparado para o enterro, e mais para dentro do templo há a capela que marca o local do sepultamento. Como o cristão acredita que Cristo ressuscitou, dentro do Santo Sepulcro obviamente não há corpo, mas um altar sobre uma estrutura de pedra.


Jerusalém é uma cidade sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos e para conhecer bem seus locais religiosos é preciso estar atento para as peculiaridades de cada uma dessas crenças.


Alexandre Rocha/ANBA


O Muro das Lamentações e, à direita, a Mesquita de Al-Aqsa


A Esplanada das Mesquitas, onde estão o Domo da Rocha, é o terceiro lugar mais sagrado do Islã, pois foi lá, acreditam os muçulmanos, que Maomé ascendeu aos céus. Depois da segunda Intifada (revolta palestina), porém, o acesso às sextas-feiras é restrito aos muçulmanos. Sexta-feira é dia da oração comunal e de descanso, equivale, grosso modo, ao domingo dos cristãos.

Na lateral oeste do Monte do Templo, onde estão as mesquitas, fica o Muro das Lamentações, lugar mais sagrado para os judeus. A partir do por do sol da sexta-feira já é sabá, período também de descanso e orações, e apesar da visita ao sítio ser permitida para todos, é proibido tirar fotografias no sabá.


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