A depressão é muitas vezes encarada como frescura ou crise. Casos de depressão em idosos estão cada vez mais comuns. Como detectar o problema e tratar, especialmente quando acomete pessoas na terceira idade?
O termo ''depressão'' tem sofrido uma séria banalização. Confunde-se tristeza com depressão: tristeza é um estado emocional, normal e comum, pelo qual todos nós passamos diversas vezes durante a vida, não é ''frescura'' mas, na maioria das vezes, não há nada de grave com a pessoa triste. A depressão é um quadro clínico, muitas vezes crônico, em que a pessoa tem sua vida seriamente afetada, por vezes impedindo-a mesmo de viver.
Também é preocupante a facilidade com que médicos ou psicólogos fazem um diagnóstico apressado e impreciso sobre a depressão, indicando no paciente uma patologia que muitas vezes não existe. Pessoas sadias saem dos consultórios médicos com um diagnóstico e um ou mais remédios para tomar. Assim, estamos assistindo a uma medicalização da vida, com o uso de drogas em larga escala, e sem a certeza das consequências futuras deste tipo de prática.
Existe um processo neurológico associado à depressão, e é neste campo que o medicamento age, balanceando as funções cerebrais. A psicoterapia e a psicanálise agem no campo além do neurológico, aquele em que o medicamento não tem alcance.
Em idosos, é comum uma redução na atividade cerebral. A idade chega e o corpo - e o cérebro como parte deste - vai reduzindo sua atividade. Alguns estudos mostram que há uma melhor preservação das funções neurológicas em idosos que mantêm uma atividade intelectual constante em conjunto ou não com atividade física.
É claro que tudo deve ser tratado caso a caso e um profissional, psicólogo, psiquiatra ou neurologista, pode esclarecer melhor a situação de cada paciente e fazer os exames e encaminhamentos necessários. No entanto é preciso ficar atento para o fato de que o idoso muitas vezes só chega ao consultório quando é levado pelos familiares, e comumente são estes familiares que falam sobre o paciente e não o paciente que relata suas próprias queixas. O perigo disso é que se trate o que incomoda a família deixando de tratar do que faz sofrer o paciente idoso.
Bruno Mazetto, psicólogo