Na verdade, este é um recurso da criança comumente usado para resolver ou amenizar algum conflito ou impasse que ela está vivendo. Pode ser um evento específico e difícil de lidar, ou algo mais típico da idade. Ela cria este amigo que está sempre disponível para brincar, conversar ou brigar, conforme a necessidade. Isso aparece numa fase da vida em que a fantasia é muito mais valorizada e é o apreço que nós adultos temos pela realidade que nos dificulta tanto a compreensão de como a criança vive tão intensamente a fantasia. Ela normalmente sabe que o amigo não existe, mas ainda assim se relaciona com ele como se fosse de carne e osso.
Apesar de idades cronológicas não serem uma referência muito segura, os amigos imaginários costumam aparecer na primeira infância, entre os três e seis anos de idade. É esperado que desapareçam na pré-adolescência e, caso demorem a ir embora, a ajuda de um psicólogo ou psicanalista se faz importante.
É necessário lembrar que os pais devem ter tranquilidade ao se deparar com as fantasias dos filhos, pois elas fazem parte do desenvolvimento. No entanto, não é bom entrar na brincadeira do faz-de-conta sem ser convidado, sem sinalizar que aquilo é imaginário e, muito menos, usando da fantasia para barganhar algo com a criança em prol de sua suposta educação.
É melhor falar sempre com a criança e não se dirigir diretamente ao seu amigo imaginário, deixando assim sutilmente marcado que, apesar de ser respeitada, esta é uma invenção dela. Também cabe aos pais observar a brincadeira dos filhos e procurar ajuda de um profissional da saúde quando estes seres imaginários gerarem isolamento ou sofrimento nas crianças.
Bruno Mazetto, psicólogo