Já tive azia e, ultimamente, tenho sofrido com os sintomas novamente. Gostaria de saber por que isso ocorre e como posso evitar o problema?
Azia é a sensação de queimação causada pelo retorno do suco gástrico para o esôfago, o refluxo gastroesofágico. Durante a gravidez é comum a ocorrência dessa situação pelo aumento da pressão intra-abdominal, pelo volume uterino e por ações hormonais próprias deste período. Porém, após o período da gravidez, a recorrência deste sintoma pode indicar diminuição da pressão na região chamada cárdia, que fica na passagem do esôfago para o estômago, que normalmente deveria permanecer fechada para evitar este refluxo.
Alguns alimentos podem desencadear a queimação e deverão ser evitados, como frituras, carnes gordurosas, molhos picantes, chocolates e doces em excesso. Também devem ser evitados refrigerantes gasosos, café, bebidas alcoólicas e refeições volumosas.
Além disso, o paciente pode identificar antes das crises os alimentos ingeridos que estejam favorecendo os sintomas. O cigarro deve ser evitado, bem como a ingestão de líquidos durante as refeições. Nunca deitar após as refeições. Se estiver acima do peso, atividade física com retorno ao peso ideal pode melhorar os sintomas.
Porém, na persistência da queimação, sobretudo se ocorrer semanalmente, um especialista deve ser procurado para avaliar a necessidade de uma investigação apropriada, com exames que podem determinar a causa do refluxo e também suas conseqüências. Isso é muito importante, pois esta condição, se não tratada, pode levar a lesões mais sérias do esôfago e a maiores transtornos ao paciente, por exemplo, dor torácica de forte intensidade (imitando um ataque cardíaco), estenose (estreitamento) do órgão, sangramento, e mais raramente o esôfago de Barrett (uma condição especial da mucosa do esôfago, que pode ser foco de surgimento de câncer).
Para concluir, é bom lembrar que outros sintomas podem ser decorrentes do refluxo gastroesofágico: disfagia (sensação de que o alimento está ‘entalado’ e que desce com dificuldade); episódios de engasgo e falta de ar, tosse seca e rouquidão.
Após o diagnóstico apropriado, o tratamento é feito com medicamento oral, apresentando ótimos resultados na maioria dos casos. Em pacientes que apresentam algumas das complicações citadas, ou que não melhoram com o tratamento clínico, é necessário o tratamento cirúrgico.
Pedro Humberto P. Leite, gastroenterologista