Na caixa de remédios da sua casa tem uma cartela de comprimidos ou aquele frasquinho usado durante a virose, mas esquecido depois da doença, que acabou ficando lá guardado durante muito tempo. Quando chega a hora da faxina, você percebe que eles atingiram a data de validade, e então surge a dúvida: qual a melhor maneira de jogá-los fora?
Se você pensou no lixo ou na privada, está enganado.
O remédio é um produto químico capaz de contaminar solos, água e colocar em risco a vida de pessoas que manuseiam resíduos nos aterros sanitários. A maneira correta de descartar medicamentos vencidos é incinerá-los.
Mas, provavelmente você não conseguirá fazer isso na sua casa. A boa notícia é que tanto o poder público como algumas redes de farmácias oferecem este serviço, enquanto o descarte não é regulamentado pelo governo.
Segundo a Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), um total de 704 farmácias, em 120 municípios de 12 Estados da federação, oferece o serviço do descarte correto de medicamentos. Dentre elas estão os estabelecimentos da rede Droga Raia, Drogaria São Paulo, Drogaria Carrefour, e as farmácias do Hipermercado Extra. Mas, é preciso checar se as lojas da sua cidade aceitam o medicamento, porque o serviço não é oferecido em todas as unidades.
Farmácia ou UBS?
O UOL entrou em contato com quatro prefeituras para saber como o cidadão comum pode descartar o seu medicamento, já que ainda não existe uma política nacional voltada para a questão: Birigui (SP), São Paulo (SP), Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ). Das quatro, três possuem programas próprios de descarte de medicamentos.
Os paulistanos podem levar seus remédios vencidos para qualquer UBS (Unidade Básica de Saúde) da cidade. A Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana) tem contratos com duas empresas que recolhem resíduos dos estabelecimentos de saúde.
Em 2014, foram coletados e incinerados 1.168 toneladas de medicamentos na capital paulista. A Amlurb informa ainda que as cinzas resultantes da incineração são encaminhadas para aterros licenciados para receber resíduos de serviços de saúde.
No Recife, os cidadãos também podem levar seus remédios às UBSs da cidade. A Emlurb (Empresa Municipal de Limpeza Urbana) tem um contrato com uma empresa que recolhe o material para ser incinerado. Além disso, o órgão afirmou realizar campanhas educativas para orientar a população sobre a importância de se descartar, de maneira correta, os medicamentos sem uso. "Os usuários de insulina, por exemplo, são orientados a depositar as seringas utilizadas em garrafas pet que devem ser entregues nas unidades de saúde ou nas farmácias da família", informou.
Não é apenas nas cidades grandes que esse esquema funciona. A Secretaria Municipal de Saúde de Birigui, no interior de São Paulo, também descarta medicamentos, mas apenas os distribuídos pela Farmácia Municipal e pelas nove UBSs do município. Os remédios são coletados por uma empresa contratada e incinerados. Mais de 32 quilos de medicamentos vencidos foram incinerados em 2014. No caso de medicamentos que não foram distribuídos pelo SUS, a gestão municipal aconselha os cidadãos a levar os remédios à Droga Raia do município.
O Rio de Janeiro não possui programas de recolhimento de medicamentos nas suas unidades de saúde. A Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) aconselha os cariocas a devolver "voluntariamente medicamentos no mesmo local onde comprou" e também lista algumas redes de farmácia que recebem o produto.
Remédio é um produto químico
Quando é jogado na privada, o remédio cai na rede de esgoto doméstico, que mesmo tratado, não consegue eliminar necessariamente produtos químicos, já que o tratamento é mais focado na eliminação de contaminantes orgânicos.
Estima-se que a cada quilo de medicamento que deixa de ser lançado na rede de esgoto, 450 mil litros de água deixam de ser contaminados.
Para citar um exemplo, estudos já mostraram que pílulas anticoncepcionais ao serem descartadas pelo esgoto chegam aos rios de água doce e podem dar traços femininos a peixes machos. Uma pesquisa realizada por especialistas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em 2013 mostrou peixes machos que perderam a capacidade de fecundar óvulos e, em casos mais graves, até desenvolveram ovas, característica do gênero feminino da espécie, por causa das substâncias contidas nesses medicamentos.
Se você joga no lixo, saiba que isso pode trazer risco para adultos e crianças que vivem nas áreas de lixões e aterros. No caso dos pequenos, as cores, a textura e até o gosto de muitos medicamentos podem ser confundidos com doces ou balas.
(com informações do site UOL)