Mais de 300 mil pessoas morrem no Brasil todos os anos vítimas de arritmias cardíacas. Destas, muitas pessoas nem chegam a descobrir que têm algum problema no coração. A estimativa é resultado de pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac).
De acordo com o médico Muhieddine Omar Chokr, especialista em Eletrofisiologia Invasiva e Arritmologia Clínica no Instituto do Coração (Incor), esse número é preocupante. "Vários aspectos contribuem para o aumento no número de casos de arritmia. Os fatores de risco, como alimentação desregrada, uso de tabaco e elevação da pressão arterial, por exemplo, não são tratados adequadamente. Com isso, se não houver uma conscientização da população, a tendência é que haja cada vez mais casos de óbitos", alerta.
Há basicamente dois tipos de arritmias cardíacas, aponta o especialista: a taquiarritmia, que se caracteriza pelo aumento da frequência cardíaca (mais de 100 batimentos por minuto), e a bradiarritmia, marcada pela redução dos batimentos cardíacos.
No entanto, o médico ressalta que é necessário tomar cuidado também com as arritmias assintomáticas, ou seja, que não apresentam sintomas claros e só podem ser diagnosticadas por meio de exames de rotina. "Não é sempre que conseguimos perceber se o coração bate fora do compasso. Há situações nas quais uma arritmia pode acompanhar as pessoas sem que haja desconfiança. É o caso da fibrilação atrial, uma modificação no ritmo de contração do coração que ocorre quando os átrios, câmaras superiores do coração, não se contraem de maneira sincronizada, batendo de forma mais rápida e irregular que o normal. Por isso, é importante que as pessoas realizem a palpação regular do pulso, aumentando as chances de identificar a doença, além fazer visitas regulares ao cardiologista", esclarece.
A fibrilação atrial é uma doença bastante prevalente no Brasil, com a estimativa de quase 1 milhão de casos. O principal risco associado é o desenvolvimento de acidentes vasculares cerebrais, ou derrames, que geralmente trazem o dobro do risco de morte (100% a mais) aos pacientes em comparação a indivíduos sem fibrilação atrial.
Além disso, ela aumenta em cinco vezes a chance de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou derrame por afetar o fluxo de sangue no coração, provocando a formação de coágulos. É importante destacar que, apesar de arritmia cardíaca ter maior incidência em idosos, segundo a última pesquisa do IBGE, não há limite de idade e restrição de gênero para a doença.
Alguns dos sintomas de fibrilação atrial são ansiedade, dificuldade para realizar exercícios físicos, fraqueza, dores no corpo, tontura, falta de ar, fadiga crônica e palpitações no peito.
O tratamento
Há diversas formas de tratar arritmias e reduzir seus riscos. É preciso primeiramente diagnosticar o motivo pelo qual o paciente desenvolveu a arritmia cardíaca e, sob os cuidados de um cardiologista, buscar o tratamento por meio de fármacos. No entanto, mais de 50% dos pacientes com fibrilação atrial não respondem ou toleram tratamento com medicamentos. Nestes casos ou em pacientes com mais de 60 anos, o procedimento mais adequado é a ablação por radiofrequência, ressalta o especialista.
A intervenção é feita com cateteres por veias e artérias, sem a necessidade de abertura do tórax. "É um procedimento seguro. A ablação permite aos pacientes tratar em definitivo das arritmias e voltar a viver sem efeitos colaterais ou riscos iminentes, além de aumentar os índices de efetividade do tratamento da fibrilação atrial a 88% em um período de acompanhamento de 12 meses", explica.
A técnica é minimamente invasiva e, de acordo com Chokr, diversos fatores contribuem para que os médicos e pacientes optem por essa alternativa. "O procedimento é seguro. A taxa de complicação é menor que 0,5% e, em geral, o paciente tem alta no mesmo dia. Além disso, a ablação por mapeamento 3D pode tratar de qualquer tipo de arritmia."