Não bastasse o drama enfrentado pelas famílias que perdem ou têm parentes afetados por doenças cardíacas, as despesas associadas a essas patologias podem chegar a 18% da renda dessas pessoas. Essa perda financeira ocorre por vários motivos, como faltas ao trabalho, perda de emprego e mesmo mortalidade prematura, além de custos com os cuidados formais e informais de saúde.
As doenças cardíacas também causam perdas financeiras ao país: 63% de custos do sistema de saúde, 37% de redução da produtividade e 5% menos impostos com a redução da renda dos indivíduos com problemas cardíacos e seus cuidadores.
Os dados são do estudo O ônus econômico das condições cardíacas no Brasil, publicado neste ano nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia pelo grupo do InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), em parceria com a Deloitte Access Economics, da Austrália. O estudo se debruçou sobre a carga econômica de quatro principais doenças cardíacas no Brasil: hipertensão, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e fibrilação atrial.
Em relação à mortalidade por doenças cardiovasculares, o Brasil ainda segue com mortalidade alta se comparado a alguns países desenvolvidos em que já foi constatada a redução da mortalidade por esse tipo de doença nos últimos sessenta anos. Segundo o presidente da Sociedade Paranaense de Cardiologia e diretor geral da Quanta Diagnóstico e Terapia, João Vítola, isso aconteceu porque alguns países mais ricos do mundo já entenderam como gerenciar fatores de risco para a DAC (Doença Arterial Coronariana), como mudanças no estilo de vida e prevenção, associado a uma forma de abordagem médica abrangente, com uso apropriado de tecnologia para guiar o tratamento.
"Em um cenário de custos crescentes, a otimização de recursos é imperativa em qualquer país", afirma Vitola. "Muitos países com mortalidade alta por DAC usam pouco a tecnologia de imagens cardíacas não invasivas, para prejuízo da população, pois o uso otimizado dessas tecnologias podem selecionar melhor os pacientes para procedimentos mais invasivos como cirurgias, além de contribuir para orientar um tratamento com medicações que comprovadamente reduzem a mortalidade." Para ele, no Brasil, o uso apropriado da imagem cardíaca e o atendimento com gestão baseada em diretrizes podem ajudar a melhorar a expectativa de vida e a diminuir o ônus econômico que as doenças do coração representam sobre os indivíduos e o país em geral.
Vítola destaca que alguns exames de imagem, simples e de baixo custo, como o escore de cálcio coronariano, por exemplo, detectam em fase prematura a aterosclerose coronariana, o que pode levar a um tratamento preventivo mais intenso e ajudar a salvar vidas. Curitiba foi a primeira cidade do mundo a implementar esse exame, em nível populacional, para pacientes de risco intermediário como parte do programa Escute Seu Coração.
Dados da OMS sobre mortalidade por doenças cardiovasculares nos países de baixa e média renda
• Estima-se que 17,7 milhões de pessoas morreram de doenças cardiovasculares em 2015, representando 31% de todas as mortes no mundo. Dessas, estima-se que 7,4 milhões foram devidos a doença arterial coronariana e 6,7 milhões, a acidente vascular cerebral.
• Mais de três quartos das mortes por doenças cardiovasculares ocorrem em países de média e baixa renda.
• Dos 17 milhões de mortes prematuras (abaixo de 70 anos) devido a doenças não transmissíveis em 2015, 82% estão em países de média e baixa renda, e 37% são causados, principalmente, por doenças cardiovasculares.
• A maioria das doenças cardiovasculares pode ser prevenida pelo controle de fatores de risco: tabagismo, alimentação não saudável, obesidade, inatividade física e uso nocivo de álcool, com estratégias de prevenção para toda a população.
• Pessoas com doenças cardiovasculares ou alto risco cardiovascular (devido à hipertensão, diabetes, hiperlipidemia ou doença estabelecida) precisam de detecção precoce e gestão com orientação e medicamentos.
• Pessoas em países de média e baixa renda geralmente não têm o benefício de programas integrados de atenção primária à saúde para detecção e tratamento em comparação com as pessoas em países de renda alta.
• Pessoas que vivem em países de média e baixa renda e sofrem de doenças cardiovasculares têm menos acesso a cuidados de saúde eficazes e serviços igualitários. Assim, as doenças cardiovasculares são detectadas tardiamente e as pessoas morrem mais jovens, muitas vezes em seus anos mais produtivos.
• As pessoas mais pobres, nos países de baixa renda, são as mais afetadas. Estão surgindo evidências suficientes para comprovar que as doenças cardiovasculares contribuem para a pobreza ao afetar a economia doméstica pelo aumento catastrófico das despesas pessoais e com saúde.
• Em nível macroeconômico, as doenças cardiovasculares sobrecarregam a economia dos países de baixa e média renda.
Em 2013, 194 países membros da OMS assinaram um acordo sobre mecanismos para reduzir doenças não transmissíveis, incluindo o "Global action plan for the prevention and controlo d NCD’s" (Plano de ação global para prevenção e controle de doenças não transmissíveis), com objetivo de reduzir mortes prematuras por doenças não transmissíveis em 25% até 2025, baseado em nove objetivos. Dois deles se concentram diretamente em prevenir e controlar as doenças cardiovasculares.