No Brasil, os homens e os mais jovens estão mais expostos aos efeitos nocivos da radiação solar quando comparados com as mulheres e com os indivíduos com mais de 25 anos de idade. A conclusão é de um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, e pela Secretaria de Vigilância em Saúde, em Brasília, ambos vinculados ao Ministério da Saúde.
Os resultados são de inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco para doenças realizado em 2002 e 2003, que avaliou as formas de proteção à radiação ultravioleta mais utilizadas por habitantes de 15 capitais brasileiras e do Distrito Federal. Um total de 16.999 indivíduos com 15 anos ou mais foi entrevistado.
Em todas as cidades analisadas foram observadas proporções mais elevadas de proteção com o filtro solar e de procura pela sombra entre as mulheres, enquanto o fator de proteção mais citado pelos homens foi o uso de chapéu ou boné.
"Apesar de os homens e os mais jovens, de maneira geral, estarem mais expostos, a pesquisa indica que as mulheres também não estão se protegendo de maneira adequada", disse Liz Maria de Almeida, gerente da Divisão de Epidemiologia da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca e coordenadora do estudo, à Agência FAPESP.
Segundo ela, motivadas muito mais por questões estéticas do que pela consciência de que o sol é um fator de risco para o câncer, as mulheres acabam usando mais protetores solares. Mas o estudo identificou que as mulheres usam esse tipo de produto, que tem efeito médio de duas horas, poucas vezes ao dia e que entram na água freqüentemente, o que reduz o efeito.
"O problema está na falta de conhecimento a respeito dos efeitos da radiação ultravioleta e do funcionamento dos produtos de proteção solar disponíveis no mercado. Os números dos fatores de proteção dos filtros ainda geram muitas dúvidas na população", explica Liz Maria.
Uma indicação do desconhecimento é que as taxas brutas de incidência para o câncer de pele em 2006 foram praticamente iguais entre os gêneros no Brasil. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a incidência da doença tipo não melanoma foi de 68 e 69 em cada 100 mil habitantes para homens e mulheres, respectivamente.
"Esse indicador destaca que, apesar de a proteção variar do ponto de vista do gênero, o nível de exposição solar pode ser o mesmo e a proteção não está sendo eficiente", disse Liz Maria. "O não melanoma é o tipo de câncer de pele que, apesar de normalmente não ser maligno, é o mais comum na população brasileira por suas causas estarem fortemente atreladas à exposição solar. Mais de 96% dos casos de câncer de pele no país são de não melanoma", explicou.
Diminuir a exposição
Segundo a pesquisadora do Inca, o levantamento é o primeiro, em nível nacional, sobre os hábitos de proteção da população com o objetivo de conhecer o nível de exposição solar cumulativa para a criação de programas de prevenção.
A análise dos dados do trabalho foi feita em parceria com duas entidades norte-americanas, a Escola de Saúde Pública Bloomberg da Universidade Johns Hopkins e o Centro Internacional Fogarty, dos Institutos Nacionais de Saúde.
Outro estudo, que será publicado na edição de 5 de maio da revista médica The Lancet, destaca que o uso de roupas e a diminuição do nível de exposição à radiação solar são duas opções mais eficientes do que a utilização dos filtros solares.
Os pesquisadores, coordenados por Stephan Lautenschlager, do Hospital Triemli, na Suíça, fizeram um levantamento dos principais tipos e características de roupas que podem fazer diferença em termos de proteção solar.
Segundo os autores, a população deveria ser mais bem aconselhada sobre como utilizar os filtros ou bloqueadores, uma vez que tais produtos não devem ser empregados de forma abusiva como justificativa para a aumentar o nível de exposição à radiação ultravioleta.