Testes realizados pela Proteste Associação de Consumidores com 53 alimentos industrializados, constatou que a maioria dos produtos avaliados (68%) não contêm gordura trans em sua composição, estando em conformidade com as informações de seus rótulos. Entretanto, ainda há alimentos com alto teor da substância, entre eles a batata Pringles, cujo rótulo informa não conter gordura trans. Os resultados da pequisa foram publicados na edição deste mês da revista Proteste Saúde.
De acordo com a organização Mundial da Saúde, a ingestão desse tipo de gordura não pode ultrapassar 1% do valor calórico total da dieta diária (2g para um adulto). Ao consumir 100g de batata Pringles ou de pipoca de micro-ondas Chinezinho, o consumidor terá ultrapassado o limite sugerido. Foi detectado 0,4g de gordura trans por porção de 30g na batata Pringles. Também foi detectado excesso de trans nos biscoitos de polvilho, no de chocolate Adria, na torta de frango congelada e na rosquinha Bom Preço.
A gordura trans pode ser produzida a partir da reutilização prolongada de óleos na fritura de alimentos e no processo de hidrogenação na fabricação de alguns produtos. Na indústria alimentícia é usada para melhorar a aparência, aroma, sabor, cor e textura, além de conservação dos alimentos. A ingestão de gordura trans está associada à obesidade, à hipertensão e ao diabetes tipo 2, além da elevação dos níveis de colesterol ruim, sendo fator de risco para doenças cardiovasculares.
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Divergências
Legalmente o fabricante pode alegar a ausência de gordura trans quando o teor for menor ou igual a 0,2 g na porção. Na avaliação da Proteste, o ideal é que essa conta seja feita por 100 g do alimento, já que a alegação da ausência de gordura trans feita hoje por porção induz o consumidor ao erro. Muitas porções estipuladas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não condizem com a realidade de consumo. Ou seja, o consumidor tem a falsa impressão de estar adquirindo um produto mais saudável do que é.
Num trabalho de mestrado defendido em 2011 e aceito este ano para publicação em uma revista científica estrangeira, Bruna Maria Silveira comparou a tabela com a lista de ingredientes de 2.327 embalagens de alimentos coletados num grande supermercado de Florianópolis. Metade deles tinha entre os ingredientes algum composto com gordura trans, mas apenas 18% traziam um número maior que zero na tabela nutricional.
A explicação estaria na própria legislação. A gordura trans só "existe" para a tabela nutricional quando ultrapassa 0,2 g na porção indicada pelo fabricante. Segundo a professora Rossana Pacheco da Costa Proença líder do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE) da UFSC e orientadora da pesquisa, a regra permite que um biscoito feito com gordura vegetal
hidrogenada e porção sugerida de 30 gramas (o que às vezes equivale a 2,5 biscoitos) tenha sempre o "zero trans" na tabela. Assim, quem lê apenas a tabela nutricional pode comer 5 ou 10 biscoitos sem saber que está ingerindo gordura trans. "A função da rotulagem é informar o consumidor e ajudá-lo a fazer escolhas" diz Rossana. "Nossas pesquisas demonstram que a rotulagem, como está, não funciona adequadamente".
A pesquisa encontrou 23 nomes diferentes para o tipo de gordura que pode conter ácidos graxos trans. Para Rossana, uma padronização na nomenclatura resolveria parte do problema. Mas, segundo a Anvisa, apenas 3 dos 23 nomes estão irregulares.
Em entrevista à Proteste, a gerente de produtos especiais da Anvisa, Antonia Aquino, afirmou que a lista de ingredientes não é fonte de informação adequada para verificar a presença de gordura trans. "A rotulagem é um processo que vai melhorando ao longo dos anos, e todos os países concordam que ela precisa mudar. Mas nunca vai ser 100% adequada".