Nutrição

Pesquisadores da USP desenvolvem leite enriquecido

30 set 2011 às 17:00

É possível melhorar os níveis de minerais e vitaminas em crianças enriquecendo a alimentação das vacas que produzem o leite que elas tomam. O enriquecimento do leite por meio da alimentação do rebanho foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).

Depois de adicionar óleo de girassol com selênio orgânico e vitamina E à ração das vacas, os cientistas verificaram efeitos benéficos tanto para os animais quanto para as crianças que consumiram seu leite.


O maior benefício para o rebanho foi o aumento da produção leiteira. Para as crianças, os exames de sangue revelaram aumento nos níveis de selênio e de vitamina E, elementos deficientes na dieta brasileira.


Efeitos antioxidantes


Os professores Marcus Antonio Zanetti e Arlindo Saran Netto afirmam que seu estudo é pioneiro por seu formato, ao associar a área de zootecnia e nutrição animal ao levantamento feito sobre os efeitos do produto na saúde humana.


"Muitos estudos têm sido feitos sobre as possibilidades de alterações na alimentação de animais com a finalidade de melhorar, em tese, a qualidade de produtos para consumo humano. Mas o nosso trabalho deu um passo adiante, ao comparar o efeito do produto enriquecido ao do leite comum, e avaliar se ele realmente é melhor para a saúde humana", disse Zanetti.


Por ter conhecidos efeitos antioxidantes, o selênio é um mineral importante para combater os radicais livres.


Estudos anteriores demonstraram que a dieta brasileira é deficiente em selênio - com exceção da região Norte, onde há alto consumo de castanha-do-pará, rica no mineral. A vitamina E foi combinada ao mineral por ter efeitos antioxidantes complementares.


Ácidos graxos no leite


"As doenças cardiovasculares são consideradas os principais problemas de saúde pública e o leite, alimento rico em diversos nutrientes, é frequentemente relacionado a elas pela sua proporção de ácidos graxos saturados e pelo teor de colesterol", apontou.


"O óleo tem a função de mudar o perfil dos ácidos graxos no leite, melhorando o produto do ponto de vista da nutrição. Além disso, ele potencializa o efeito dos antioxidantes", explicou Zanetti.


Essa mudança de perfil diminui a vida útil do leite, que pode estragar mais rapidamente. Mas os antioxidantes se encarregam de reverter esse efeito.


O óleo de girassol foi utilizado como fonte de gordura para o enriquecimento da ração de modo a aliar sua ação aos efeitos antioxidantes do selênio e da vitamina E na composição físico-química do leite.


Leite enriquecido


"A suplementação com óleo de girassol na dieta das vacas, por outro lado, alterou significativamente o perfil de ácidos graxos no leite. Um dos efeitos mais notáveis foi aumentar o teor de ácido linoleico conjugado (CLA) no produto", disse.


Quanto às crianças, aquelas que receberam leite de vacas suplementadas com selênio e vitamina E tiveram maiores concentrações dos antioxidantes no plasma sanguíneo. "Com a adição da vitamina E na ração, observamos um aumento de 33% no nível sérico de vitamina E na corrente sanguínea das crianças", contou o professor.


As crianças que consumiram o leite das vacas que receberam apenas o óleo de girassol adicionado na ração tiveram o teor de vitamina E ainda mais aumentado: 45%. "Isso ocorreu porque o óleo potencializa a absorção de vitamina E", disse.


No entanto, as crianças que ingeriram leite desnatado tiveram uma redução no nível de vitamina E de 15% em relação ao grupo controle.

"As crianças que ingeriram leite de vacas suplementadas apenas com selênio e vitamina E tiveram um aumento de selênio no sangue de 160% em relação ao grupo controle. Nas crianças que ingeriram leite de vacas suplementadas com óleo de girassol o selênio variou muito pouco, aumentando em 4%. Mas, naquelas que ingeriram leite desnatado, o selênio diminuiu em 20%", afirmou.


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