Uma dieta balanceada é composta por 30% de gordura. Isso pode parecer exagerado, quando imaginamos que em uma dieta de 2000 calorias, 600 delas devem ser ingeridas sobre a forma de gorduras. Considerando que um grama de gordura gera 9 calorias, nós chegamos ao valor de quase 70 gramas de gordura nessa dieta hipotética. Esses cálculos deixam bem claro a importância das gorduras em nossa alimentação.
Para que uma dieta seja saudável e balanceada no quesito gorduras, é importante entender os seus diferentes tipos para que possamos priorizar a ingestão das gorduras do bem. Entre elas vem ganhando credibilidade e importância as gorduras chamadas poliinsaturadas ômega 3, encontradas em peixes (sardinha, salmão, atum e truta), sementes, castanhas e grãos (linhaça, nozes e soja) e principalmente em óleos vegetais como soja e canola.
A fama das gorduras ômega 3 surgiu a partir de observações dos povos esquimós, quando os pesquisadores notaram que eles tinham uma menor incidência de infarto em relação aos ocidentais, apesar de ingerirem uma dieta rica em gordura e de terem altos índices de sobrepeso e obesidade. Uma vez que a base da alimentação desses povos são os peixes gordurosos e ricos em ômega 3, inúmeras pesquisas tentam comprovar a relação causa e efeito desse dois fatos: ômega 3 e proteção cardiovascular.
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A grande dificuldade em analisarmos os reais efeitos do ômega 3 na prevenção das doenças cardíacas se deve ao fato de que o tratamento atual do infarto e a prevenção de novos eventos a partir dele tem evoluído muito e se tornado muito eficaz. Como a maioria dos estudos que utilizam o ômega 3 nesses pacientes são feitos em associação com medicamentos poderosos, fica difícil identificar os reais efeitos da gordura independente dos medicamentos.
Outro fator importante abordado em toda avaliação criteriosa desses estudos é o fato de que os mesmos povos que ingerem grande quantidade de gorduras poliinsaturadas, as gorduras benéficas, também são aqueles que ingerem muito pouca gordura saturada, sabidamente deletéria. Isso deixa sempre a dúvida se os benefícios seriam relativos ao consumo das gorduras do tipo ômega 3 ou o menor consumo das gorduras saturadas ou ambos.
A conclusão para os vários estudos em relação aos efeitos do ômega 3 ainda está em aberto, pois ainda não temos um estudo com o poder de concluir pela utilização dessa gordura na prevenção ou no tratamento das doenças cardiovasculares. Apesar disso, independente das evidências científicas a respeito dos possíveis benefícios da suplementação, os ácidos graxos ômega 3 devem fazer parte de toda alimentação saudável através de suas fontes naturais. Ao darmos preferência a esse tipo de gordura, nós estaremos retirando do nosso prato a maior causa dietética das doenças cardiovasculares que é a gordura saturada.
*Por Ellen Simone de Paiva, endocrinologista e diretora do Citen - Centro Integrado de terapia Nutricional.