Rob Rhinehart é um engenheiro americano que recentemente despertou uma discussão nos Estados Unidos acerca da dieta alimentar da humanidade. Há mais de um ano, ele só se alimenta de um produto sintético que ele mesmo criou, chamado Soylent, que garante substituir perfeitamente a alimentação natural.
Trata-se de um pó que precisa de água para ser consumido e se transforma em um líquido bege e adocicado. A quantidade recomendada para um mês é de 3,5 quilos e custa 230 dólares.
Em entrevista à BBC Brasil, Rhinehart afirmou que o alimento contém todos os nutrientes necessários ao ser humano e é produzido sem precisar da agricultura.
"O alimento natural nem sempre é melhor. Com o tempo, invenções do homem são sempre superiores aos seus correspondentes encontrados na natureza. O Soylent gera menos impacto ambiental que alimentos orgânicos, que exigem grandes quantidades de terra, água e pesticidas, além de muita mão de obra. Assim que conseguirmos provar que ele é mais ecologicamente eficiente e sustentável, aqueles interessados em preservar o planeta ficarão muito felizes com o produto", explicou o americano.
Motivação
Segundo ele, a vontade de criar um alimento mais simplificado sempre existiu, pois ele via sua mãe se desdobrar na cozinha para alimentar a família - além dela própria e Rhinehart, o pai e outros quatro irmãos.
"Sempre gostei de comer e nunca fui seletivo com o que comia, mas lembro da trabalheira que minha mãe tinha", contou. Além disso, o engenheiro de software sempre acreditou que comidas tradicionais fossem primitivas.
Pondo em prática
A ideia foi posta em prática em janeiro de 2013, quando o americano começou a pensar em uma fórmula que sintetizasse tudo que o corpo humano precisa para se manter nutrido e saudável.
Com a ajuda de Xavier Pi-Sunyer, diretor do departamento de nutrição humana da Universidade Columbia, o Soylent foi desenvolvido e nomeado assim por causa do filme No Mundo de 2020, de 1973 (chamado "Soylent Green" no título original em inglês). Semelhante ao que Rhinehart acredita, no filme, a empresa Soylent também produzia alimentos sintéticos já que os alimentos naturais estavam escassos.
Segundo o engenheiro, atualmente, sua dieta é 90% composta pelo produto e ele só consome outros alimentos, como churrasco ou sushi, por prazer.
Inovador?
Apesar de Rhinehart defender sua criação, os órgãos americanos discordam. "O Soylent não é diferente de produtos comerciais semelhantes que oferecem uma nutrição completa de forma líquida", afirmou Roger Clemens, porta-voz da Sociedade Americana para Nutrição (ASN) e professor adjunto de Farmacologia e Ciências Farmacêuticas da Universidade do Sul da Califórnia (USC).
Além disso, Clemens ainda defendeu os produtos semelhantes ao Soylent. "Esses produtos têm vantagens [sobre o Soylent]. Além de contarem com evidência clínica de segurança e eficácia, já foram aceitos pela comunidade médica, por órgãos regulamentadores e pelo público em geral."
Antipatia
A invenção de Rhinehart ainda contrasta com o padrão de consumo das famílias americanas. Aproximadamente 81% delas afirma comprar alimentos orgânicos, segundo um relatório de 2012 da Associação de Comércio Orgânico (OTA, na sigla em inglês).
O médico Russell Saunders, colunista do Daily Beast e Ordinary Times, rejeitou o produto e afirmou que não o recomendaria para seus pacientes.
Nutrição ideal
O inventor ainda garante que o alimento sintético seja a chave para uma nutrição ideal e afirma que um de seus objetivos é levá-lo à populações menos privilegiadas.
No entanto, especialistas das autoridades americanas discordam. "Ainda não há uma definição de nutrição ideal. Os novos estudos têm mostrado que isso varia bastante entre cada indivíduo. A idade e a fase da vida em que a pessoa se encontram impactam bastante as necessidades nutricionais", afirma Clemens, da ASN.
Ele ainda afirmou que o consumo do Soylent despreza a importância da mastigação, um fator indispensável para satisfação alimentar e disponibilidade de nutrientes.
Além disso, Clemens apontou falhas de logística ao criticar a ideia de Rhinehart de levar o produto a países menos favorecidos. Segundo ele, o acesso a água potável seria um dos maiores obstáculos, sem contar desafios relacionados à regulamentação e culturas locais.
(Com informações da BBC Brasil)