Um dos fatores que pode estar associado à obesidade em adultos é a exposição deles, quando crianças e adolescentes, ao Bisfenol A (BPA, da sigla em inglês). Um recente estudo da Escola de Medicina da New York University concluiu que crianças e adolescentes obesos apresentam maiores concentrações de BPA na urina. "Talvez o BPA seja responsável pela multiplicação do tecido adiposo nas crianças e adolescentes, o que poderia levar ao ganho de peso", considera a médica endocrinologista Andressa Heimbecher, de São Paulo.
Ela explica que o Bisfenol A é um disruptor endógeno, ou seja, imita um hormônio feminino que o corpo produz naturalmente, o estrógeno. Diversos estudos relacionam essa substância à puberdade precoce, risco de câncer e de doença cardiovascular. O novo estudo da Escola de Medicina da New York University é o primeiro que descreve uma associação entre a exposição a um agente químico com a obesidade infantil.
O Bisfenol A está presente na grande maioria dos utensílios de cozinha – mamadeiras, tampas para microondas, colheres, copos, pratos e potes de acondicionamento de alimentos – e, quando eles são aquecidos ou resfriados a temperaturas muito extremas, podem liberar BPA. O Bisfenol A também pode ser encontrado em encanamentos e no revestimento interno das latas de alimentos enlatados – e pode ser liberado com facilidade em caso de amassamento. Até nos papéis térmicos, aqueles que são usados na impressão de ingressos de cinemas, por exemplo, o BPA está presente, e permanece na pele depois que manipulamos esses papéis. "O ideal é lavar sempre as mãos antes de ter contato com bebês para evitar que eles sejam expostos ao BPA", acredita a endocrinologista.
No estudo da Escola de Medicina da New York University, foi visto que as crianças e adolescentes obesos apresentavam mais Bisfenol A na urina, logo isso pode indicar uma correlação entre o contato com o BPA e o risco de obesidade nesta faixa etária", diz Andressa. Para tanto, recomenda que se evite o uso de utensílios plásticos, substituindo-os por porcelana ou vidro. "Sabemos que os utensílios plásticos que vêm com a marcação 3 ou 7 podem conter BPA. Como o plástico pode ser reciclado, entretanto, há o risco de utensílios com outras marcações também conterem traços de BPA", alerta.
O BPA pode ainda ser liberado com o uso de detergentes muito abrasivos. Por isso, Andressa recomenda o uso de sabão de coco, que agride menos o plástico.
Na Europa e Estados Unidos, leis proíbem o uso de BPA na fabricação da matéria-prima para mamadeiras. No Brasil, a Anvisa proibiu o uso do BPA em mamadeiras em setembro de 2011. No entanto, cabe ressaltar que o BPA não deve ser considerado o único responsável pelo ganho de peso na infância. Existem muitos fatores a serem considerados em conjunto como, por exemplo, o fato de uma alimentação menos saudável, com enlatados e poucos vegetais, verduras ou frutas, conter mais BPA. E, muitas vezes, as crianças que estão acima do peso podem estar ingerindo mais os alimentos industrializados.
Andressa Heimbecher é médica colaboradora do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), membro titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e membro ativo da Endocrine Society.