Dois estudos realizados, separadamente, revelaram a mesma coisa: a deficiência de vitamina D é ponto comum em pacientes com doenças reumáticas. Um terceiro estudo avaliou, ainda, a resposta à suplementação de vitamina D e descobriu que apenas tomar a dose diária recomendada pelos médicos não normaliza os níveis de vitamina D no organismo de pacientes com doença reumática. Um quarto estudo sobre a vitamina D revelou que níveis reduzidos da vitamina no organismo estão associados com um risco maior de câncer. Os resultados das quatro pesquisas foram apresentados, durante o Eular 2010, Congresso Anual da Liga Européia Contra o Reumatismo.
Conheça os estudos e seus resultados
O estudo inglês realizado com 180 pacientes, por Clive Kelly, do Hospital Queen Elizabeth, em Gateshead, na Inglaterra, tinha o objetivo de avaliar os níveis médios de vitamina D em pacientes com doenças inflamatórias articulares, artrose e mialgia. Os dados sobre os níveis de vitamina D foram recolhidos e os resultados mostraram que 58% dos indivíduos tinham níveis considerados abaixo do normal em relação a indivíduos saudáveis. Esses pacientes foram comparados com um grupo controle de pacientes com dores crônicas nas costas por um período de seis meses. O grupo de pacientes com artrite reumatóide registrou níveis medianos de vitamina D de 36 nmol / L (faixa de 16-85 nmol / L, p = 0,045), nos pacientes com osteoporose, estes níveis eram ligeiramente inferiores, com um valor médio de 31 nmol / L (variação de 7 -82 nmol / L, p = 0,005). Pacientes com dor muscular inexplicável, ou mialgias, tinham igualmente baixos níveis medianos de vitamina D em 31 nmol / l (intervalo de 11-79 nmol / L, p = 0,008).
O estudo italiano, realizado com 1.191 pacientes (85% mulheres) com artrite reumatóide, por Luca Idolazzi, da Universidade de Verona, avaliou os níveis de vitamina D, a ingestão de cálcio, a exposição ao sol e a densidade mineral óssea dessas pacientes. Níveis menores de vitamina D foram encontrados em pacientes com doença ativa, em comparação com aqueles em remissão da doença, e, entre aqueles que não estavam respondendo ao tratamento, quando comparados aos pacientes com boa resposta ao tratamento.
O terceiro estudo, realizado na Itália, com 100 pacientes, por Pier Paolo Sainaghi, da Universidade de Piemonte Orientale Amedeo Avogadro, teve como objetivo avaliar o efeito da suplementação de vitamina D em pacientes com doenças inflamatórias auto-imunes e em pacientes que não apresentavam doenças inflamatórias auto-imunes. Estes pacientes receberam, ao longo de seis meses, uma suplementação diária de 800-1000 UI de colecalciferol, uma forma de vitamina D, muito utilizada para fortificar alimentos. Após a suplementação, apenas 29% dos pacientes atingiram níveis de vitamina D maior do que o nível clinicamente considerado "suficiente" em indivíduos saudáveis.
Ramón Mazzucchelli, pesquisador do Hospital Universitário de Madri, reuniu dados de mais de 3.000 pacientes com níveis reduzidos de vitamina D no organismo. Dentre os seus achados, Mazzucchelli descobriu que a vitamina D também está associada com um risco maior de câncer e de mortalidade de pacientes, independentemente da sua idade e sexo.
Falta de vitamina D
A maioria dos pacientes reumáticos apresenta deficiências de vitamina D. "Os novos dados epidemiológicos, apresentados durante o Congresso da Liga Européia Contra o Reumatismo, nos mostram que há uma forte relação entre a carência de vitamina D no organismo e o aumento na incidência e nas complicações das doenças reumáticas. Os novos estudos nos alertam também que os baixos níveis dessa vitamina, em pessoas que sofrem de vários tipos de doenças reumáticas, estão associados com um risco maior de mortalidade e de desenvolvimento de câncer", informa o reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti, diretor do Instituto de Reumatologia e Doenças Osteoarticulares (Iredo).
"O que sabíamos sobre a vitamina D até há poucos anos não passava de alguns parágrafos sobre sua importância para o metabolismo dos ossos. Sabíamos que ela era essencial para a absorção intestinal de cálcio e para a saúde óssea", conta Lanzotti. As ações mais conhecidas da vitamina D ocorrem no sentido de promover a mineralização óssea e um balanço positivo de cálcio.
"Atualmente, sabemos que os receptores da vitamina D são específicos e que estão espalhados pela maioria das células do corpo. Como acontece com os hormônios em geral, a vitamina D age através da ligação aos seus receptores celulares, onde consegue chegar através da corrente sangüínea, exercendo com versatilidade várias ações biológicas, muito além do metabolismo ósseo", conta o diretor do Instituto de Reumatologia e Doenças Osteoarticulares.
Fontes de vitamina D
As fontes alimentares de vitamina D são: ovos, fígado, manteiga e peixes gordos, dentre eles, o arenque, a cavala, o salmão, a sardinha e o atum, inclusive os enlatados. Os peixes magros acumulam a gordura no fígado e são também fontes muito importantes de vitamina D, como é o caso do óleo de fígado de bacalhau. No Brasil, nossa dieta é relativamente pobre em vitamina D e dependemos muito da luz solar para garantir estoques adequados desta vitamina no organismo. Mesmo num país tropical, a nossa incidência de hipovitaminose D alcança 40% das mulheres, na menopausa, e 80% delas, aos 80 anos.
"Hoje em dia, a tecnologia tornou possível a fortificação de alimentos com vitamina D e muitos leites e margarinas já estão enriquecidos com ela. Mas, a principal fonte de vitamina D é a exposição à luz solar, que através da irradiação ultravioleta do tipo B (UVB) produz na pele grande quantidade de vitamina D, sofrendo influências de alguns fatores como a estação do ano, a latitude, o horário do dia, a intensidade de pigmentação da pele, a idade e o uso de roupas ou protetores solares", informa o reumatologista.
Os estoques corporais de vitamina D já podem ser aferidos através da dosagem sanguínea de uma de suas frações. Atualmente, já sabemos que as quantidades necessárias para a manutenção da saúde são variáveis com a idade e são maiores do que pensávamos anteriormente. "Através destas quantidades recomendadas, passamos a entender quais os fatores mais importantes na adequação dos estoques corporais da vitamina, quando eles estão reduzidos, e observamos que os alimentos fontes ou sua suplementação são muito menos eficazes quando comparados à exposição ao sol", defende o reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti.
Em países próximos do Equador, a radiação ultravioleta do sol atravessa a camada de ozônio da estratosfera da terra o suficiente para permitir a produção de vitamina D pela pele durante todo o ano. Apesar disso, com o avançar da idade, reduz-se a capacidade de produção cutânea de vitamina D e aumenta-se a prevalência de deficiência dessa vitamina. "Uma pessoa de 70 anos, por exemplo, consegue produzir apenas 20% da vitamina D produzida por uma pessoa jovem. Nesses casos, a suplementação de 700-800UI/dia de vitamina D parece reduzir o risco de fraturas em pessoas idosas. No caso das doenças reumáticas, a vitamina D tem sido considerada ‘um escudo’", informa o médico.
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