Se você está engordando, é quase certo que você está comendo muito. Porque será que é tão difícil para você se convencer disso? Mas você não é a exceção, pois cerca de 80% dos pacientes que nos procuram para emagrecer, vem em busca de uma causa orgânica que justifique o ganho de peso. "Só pode ser hormonal" dizem alguns, "parei minha ginástica" dizem outros, "deve ser da idade".
Diante desses questionamentos, o médico e a nutricionista muitas vezes titubeiam. É tão difícil convencer essas pessoas sobre os reais motivos de seu ganho de peso, que esses profissionais entram na deles. "É mesmo, talvez seja a idade" ou "vamos ver os hormônios". Quando, pelo contrário, ousamos supor que possivelmente essas pessoas estão comendo além da conta, arrumamos uma confusão. "Como pode ser isso? Eu nem como arroz!"
Apesar do conflito que isso pode gerar, nós precisamos convencer. Convencer a cada um deles, de que ansiedade não engorda, faz comer. Explicar que não estamos dizendo que eles mentem, nem julgando seus comportamentos. Queremos descobrir um caminho, por onde começar ajudá-los. Não há como corrigir uma falha, sem identificá-la de antemão.
Comer muito, nem sempre é sinônimo de um prato volumoso. Podemos observar sempre que vamos a um restaurante por quilo, pessoas com pratos minúsculos e altamente calóricos. Geralmente sem arroz ou feijão, mas sem abrir mão de um pastelzinho, uma minúscula linguiça calabresa e uma única colher de sopa de farofa ou maionese. E os colegas de trabalho, ainda reforçam, "mas você come muito pouco". Pura ilusão, pois além de muito calórico, essa refeição trará saciedade muito curta e em pouco tempo essa pessoa estará procurando algo para beliscar. E ainda continua achando que come realmente pouco.
Muitos nem almoçam, mas passam a tarde toda beliscando. São pequenas porções de castanhas, bolachinhas, barra de cereal, café adoçado com açúcar ou chocolate de máquina. Um pouquinho de cada vez, sem excessos! Ao final do dia, somadas as calorias, elas ultrapassam em muito as recomendações diárias e um exemplo disso é que apenas 100g de castanhas podem conter quase 1000 calorias e cada 4 bolachinhas de água e sal equivalem a um pão francês. Melhor seria almoçar normalmente.
O final de semana nunca é computado. As pessoas pensam sempre na dieta de segunda a sexta feira. São grandes quantidades de alimentos e bebidas ingeridos todo sábado e domingo, ou o que é ainda pior, sexta, sábado e domingo. Sim, porque para muitos, sexta-feira já faz parte do final de semana, a partir da "happy hour". Além disso, nos finais de semana, o lazer se confunde com o alimento e fica difícil perceber os excessos. Cafés na padaria, almoços nas praças de alimentação dos shoppings e aquela saída básica para jantar no sábado. Afinal de contas, a semana é muito dura!
Bebida alcoólica não é comida, mas muitas vezes faz parte dela e ninguém percebe isso. Além do mais, quando bebemos, beliscamos alimentos calóricos e comemos mais. A bebida apura o paladar e nos libera do controle do volume alimentar. O resultado é que quem aprecia bebidas alcoólicas com frequência, dificilmente se mantém magro, uma vez que o álcool, com suas 7 calorias por grama, adiciona um teor calórico jamais pensado ao cardápio das pessoas.
Sucos e frutas e uma grande quantidade de alimentos saudáveis, não deixam de ter calorias, às vezes em excesso. Veja o caso do suco de laranja com sua média de 150 calorias, uma posta de salmão com 300 calorias, dois fios de azeite naquela salada perfeita, 100 calorias. Todos passam despercebidos, com a idéia de que o que é saudável não engorda. Ledo engano!
Engordamos sempre que comemos mais do que gastamos. Se uma pessoa exceder apenas 100 calorias - uma maçã - em sua ingestão diária, ela poderá, ao final de um ano, ganhar cerca de 5 kg. Analisada por essa ótica das ciências exatas, parece simples a compreensão do ganho de peso. Acontece que para a grande maioria das pessoas, isso não é tão simples. Por isso elas continuam a buscar uma causa para o ganho de peso, além do seu comportamento alimentar, mesmo que para isso, elas tenham que negar todas as evidências do fato.
Para conseguir perder peso, é preciso nos desarmar da nossa própria resistência em perceber tudo o que comemos ou de procurar doenças onde só exista comportamento alimentar inadequado. Dificilmente estaremos entre a minoria de 1% das pessoas que engordam por doença. Muito mais provável que estejamos entre as demais 99%.
*Por Ellen Simone de Paiva, diretora do Citen - Centro Integrado de Terapia Nutricional