A alimentação de mulheres na menopausa com osteoporose influencia na gravidade da doença. Aquelas que mantêm um padrão de alimentação que inclui grandes quantidades de doces, chás e café tendem a ter a densidade óssea mais baixa. A conclusão é de uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, feita pela nutricionista Natasha França. O estudo também constatou que pessoas com o peso saudável que costumam comer frutas, verduras e legumes tendem a ter a ter osteoporose mais leve. Muito além do cálcio, os dados sugerem que, nesta doença, a alimentação pode ser coadjuvante do tratamento com medicamentos.
A pesquisa da FSP buscou entender se a alimentação de mulheres que já têm osteoporose pode exercer influência nos valores da densidade mineral óssea delas. Esta medida indica se o osso encontra-se em estado de "normalidade", ou seja, com tamanho e dureza adequados. A doença é caracterizada pela desmineralização (perda de minerais, principalmente cálcio) dos ossos, tornando-os mais frágeis e porosos. Geralmente, quando o médico faz o diagnóstico, são indicados medicamentos e a ingestão de alimentos ricos em cálcio, como leite e derivados, pois o nutriente participa da formação e manutenção dos ossos.
Os resultados do estudo sugerem que, além desse tratamento convencional, mais mudanças na alimentação podem implicar melhora no quadro. Entre as mulheres participantes, quem comia grandes quantidades de doces, chás e cafés tinha também uma menor densidade mineral óssea tanto no fêmur quanto em todo o corpo. Essa medida era maior, no entanto, para aquelas com o IMC saudável cuja alimentação tinha grande participação das frutas, vegetais e tubérculos.
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Prevalência em mulheres
O grupo liderado por Natasha optou por estudar as mulheres principalmente devido à maior prevalência da doença entre elas. "A osteoporose é uma doença que acomete muito mais mulheres, principalmente porque ela está envolvida com o hormônio estrógeno", explica a nutricionista. A produção deste hormônio tende a diminuir após a menopausa, estágio em que estavam todas as participantes da pesquisa, o que leva à maior "retirada" do cálcio do osso, aumentando assim, o risco de osteoporose.
A pesquisa foi feita com 156 mulheres com osteoporose, que já haviam passado pela menopausa, moradoras de São Paulo e atendidas no Ambulatório de Doenças Ósteo-Metabólicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Além de coletar dados como peso, altura e realizar o exame da densitometria óssea nas participantes, a pesquisa buscou entender como elas se alimentavam. Para isso, elas registraram tudo que comeram durante três dias não consecutivos, dois durante a semana e um no fim de semana.
Após esta etapa, todos os dados foram computados em um software de nutrição e, assim, Natasha pôde dividir todos esses alimentos em grupos, que foram agregados por uma análise estatística feita em parceria com o Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP. Do agrupamento entre grupos de alimentos relacionados, surgiram os cinco padrões alimentares considerados na pesquisa. Eles são o padrão "saudável", caracterizado pelo consumo de vegetais, frutas e tubérculos, o padrão "carne vermelha e cereais refinados", o padrão de "leite e derivados magros" (leite e iogurtes desnatados, queijos magros etc), o padrão de "doces, café e chás", que incluía açúcar, mel, e doces em geral, e o padrão "ocidental", caracterizado pelo elevado consumo de refrigerantes e fast food.
A partir daí, uma análise de regressão linear foi feita para entender a relação entre o consumo desses padrões com a densidade do osso de cada pessoa. A nutricionista explica que "muitas vezes, a alimentação acaba exercendo um efeito muito pequeno, que acaba não sendo detectado em questões estatísticas". Mesmo assim, a pesquisa conseguiu encontrar associação entre dois padrões de alimentação e a densidade do osso entre as mulheres com osteoporose avaliadas.
O estudo fez parte da dissertação de mestrado "Associação entre o padrão alimentar e a densidade mineral óssea de mulheres menopausadas com osteoporose", de autoria de Natasha França, sob orientação da professora Lígia Araújo Martini. Os dados no ambulatório foram coletados entre 2009 e 2012.