O módulo "Consumo Alimentar Individual" da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicou que os brasileiros estão ingerindo menos de um terço dos alimentos recomendados para a prevenção do câncer.
Conforme os dados da POF, o consumo diário de frutas, legumes e verduras é de apenas 126,4 gramas, menos de um terço dos 400 gramas mínimos recomendados para prevenir o câncer. O Fundo Mundial para Pesquisa contra o Câncer (WCRF, na sigla em inglês) e o INCA estimam que se a população brasileira passasse a consumir diariamente, no mínimo, 400 gramas desses alimentos, um de cada três casos de câncer de cavidade oral (boca, faringe e laringe), um em cada três casos de câncer de pulmão, um de cada quatro casos de câncer de estômago deixariam de ocorrer.
De acordo com o relatório Políticas e Ações para a Prevenção do Câncer no Brasil, a combinação de alimentação saudável e atividade física é capaz de prevenir 63% dos casos de câncer de boca, faringe e laringe; 60% dos tumores de esôfago e 52% dos casos em que a doença atinge o endométrio. O nutricionista da área de Alimentação, Nutrição e Câncer do INCA Fábio Gomes, aponta outro dado preocupante do estudo do IBGE: a presença de 523 gramas de carne vermelha na mesa dos brasileiros toda semana."De acordo com as informações de consumo alimentar individual, 7% dos casos de câncer de cólon e reto (intestino grosso) poderiam ser evitados se a média de consumo semanal de carne vermelha fosse inferior a 500 gramas", afirma Fábio.
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Conforme os estudos do INCA, as carnes (incluindo peixes e aves) salgadas e processadas também deveriam ser evitadas para prevenir o surgimento de cânceres de estomago, cólon e reto, os quais estão entre os cinco mais incidentes na população brasileira. O consumo dessas carnes é, hoje, em média, de 100 gramas por semana, segundo a POF.
O alto teor calórico em alimentos de pequeno volume, como biscoitos, assim como a ingestão em demasia de bebidas açucaradas, como refrigerantes e refrescos artificiais, estão diretamente ligados ao ganho de peso e propensão à obesidade, que, por sua vez aumentam o risco dos cânceres de esôfago (23%), pâncreas (18%), vesícula biliar (10%), cólon e reto (5%), mama (14%), endométrio (29%) e rim (13%).
"Uma família de quatro pessoas, por exemplo, consome semanalmente um quilo e meio de guloseimas (1500,8) e mais de seis litros (6711,6) de refrigerantes e refrescos adoçados, o que tem contribuído de modo relevante para as estatísticas de excesso de peso, que hoje já afeta metade da população adulta, um terço das crianças e um quinto dos adolescentes brasileiros", declara Fábio.
O diretor-geral do INCA, Luiz Antonio Santini, esclarece que hábitos alimentares saudáveis somados à atividade física regular e peso corporal adequado poupariam, no mínimo, R$ 84.210.688,00, em gastos do SUS, no ano de 2010.
De acordo com as estimativas do INCA, só até o final de 2011, quase meio milhão de pessoas deverão receber o diagnóstico de câncer no Brasil. Desse total, as mulheres estão no topo do ranking, com cerca de 253 mil casos (52%), contra os 236 mil casos estimados para os homens.