O caso de uma americana de 42 anos que se lembra com detalhes de todos os dias de sua vida desde a adolescência é destaque na edição desta quinta-feira (14) da revista de ciência New Scientist.
Chamada de AJ, ela é capaz de se lembrar das datas de todas as Páscoas durante 24 anos, e ainda recorda o que estava vestindo, onde estava e o que estava fazendo no dia. Além disso, sua memória ainda recorda fatos históricos e principais acontecimentos das últimas décadas.
Segundo a revista, os cientistas da Universidade da Califórnia em Irvine, nos Estados Unidos, começaram a pesquisar sobre a habilidade da memória de AJ há sete anos, quando ela procurou os acadêmicos dizendo que se sentia "exausta" e que as lembranças eram como um "fardo" que ela tinha que carregar.
AJ descreve suas lembranças como "um filme que nunca pára", afirma o texto.
A partir dos relatos de AJ, a equipe do neuropsicólogo James McGaugh realizou testes com a paciente e identificou uma nova síndrome de supermemória, batizada de hyperthymestic (nome em inglês, baseado no grego, thymesis, que significa lembrar).
"Convencidos de que sua condição era nova na ciência, os cientistas chamaram [a síndrome] de hyperthymestic e identificaram vários outros pacientes que sofrem do mesmo mal", diz a revista.
Esquecimento
De acordo com a New Scientist, os cientistas ainda não conseguiram identificar a causa da habilidade "extraordinária" da memória de AJ.
No entanto, a capacidade de recordar memórias autobiográficas pode estar relacionada com uma falha nas atividades cerebrais que permite que as pessoas esqueçam fatos supérfluos.
"O esquecimento funcional é crucial para o bom funcionamento da memória. Um sistema que recorda todos os detalhes e torna esta informação disponível com freqüência irá resultar em uma confusão em massa", diz o cientista Dan Schacter, da Universidade de Harvard, à revista.
Para McGaugh, que investiga o caso, AJ possui "qualidades obsessivas". Ele sugere que, assim como os autistas, ela é interessada em datas e no calendário. Além disso, há 32 anos ela mantém um diário, guarda os guias de televisão de vários anos e diz que "sempre precisou de organização".
Segundo o cientista, os comportamentos compulsivos podem reforçar a memória, em vez de incentivar o arquivamento e o esquecimento das informações pelo cérebro.
Características
A revista indica ainda que, segundo os pesquisadores, a memória de AJ não é fotográfica, já que, em um dos testes, ela não conseguiu se lembrar ao fechar os olhos o que os cientistas estavam vestindo.
"A memória autobiográfica dela, apesar de incrível, é seletiva e até comum em alguns aspectos", diz McGaugh na reportagem.
Os cientistas afirmaram à revista que o próximo passo da pesquisa será analisar ressonâncias magnéticas dos cérebros dos pacientes que sofrem da síndrome hyperthymestic para identificar possíveis diferenças entre cérebros de pessoas que possuem memória normal.
BBC Brasil